domingo, 1 de abril de 2012

Mulher:dor d'alma, vampiro da vida!

Mão no peito para sentir o coração. Domingo de sol. Sentado espera o céu abrir na escuridão do seu "Eu", solitário. Não sabe mais ver a luz! Tanta gente ao seu redor e vive somente com o seu "Eu"!            Ana Marly de Oliveira Jacobino

                                      Túmulo de Florbela Spanca (foto by Luis Porto)
Mesmo antes de seu nascimento, a vida de Florbela Espanca , batizada como Flor Bela de Alma da Conceição Espanca já estava marcada pelo inesperado, pelo dramático, pelo incomum. Seu pai, João Maria Espanca era casado com Maria Toscano. Como a mesma não pôde dar filhos ao marido, João Maria se valeu de uma antiga regra medieval, que diz que quando de um casamento não houver filhos, o marido tem o direito de ter os mesmos com outra mulher de sua escolha. Assim, no dia 8 de dezembro de 1894 nasce Flor Bela Lobo, filha de Antônia da Conceição Lobo. João Maria ainda teve mais um filho com Antônia, Apeles. Mais tarde, Antônia abandona João Maria e os filhos passam a conviver com o pai e sua esposa, que os adotam... Florbela tentou o suicídio por duas vezes mais em Outubro e Novembro de 1930, na véspera da publicação da sua obra-prima, Charneca em Flor. Após o diagnóstico de um edema pulmonar, a poetisa perdeu o resto da vontade de viver. Não resistiu à terceira tentativa do suicídio. Faleceu em Matosinhos, no dia do seu 36º aniversário, a 8 de Dezembro de 1930. A causa da morte foi a sobredose de barbitúricos.
                                                  Eu...   Ana Marly de Oliveira Jacobino
 Eu sou a que vesti a voraz volúpia,
Eu sou a que a engoliu com avidez,
Amo desfrutar no corpo a alquimia
Ópio notório, cruel... a insensatez...
 ### Flana sobre mim fiel a afrodisia
Rasga o corpo notória gravidez
Cronos devora cruel agenesia,
Alma corrompida pela aridez!
 ### Senti o tempo lânguido do viver
Afagando a cruel face do morrer
Deserto de amores..., onde vivi!
 ### Recorro à ilusão a me socorrer
Mentira ou verdade... e maldizer
Corpo e sangue..., onde sobrevivi!
Túmulo de Francisca Júlia; com a beleza da Musa Impassível, escultura de Brecheret
Francisca Júlia da Silva Munster (1871-1920) nasceu em Eldorado Paulista (SP) e faleceu em São Paulo. Sua estreia literária deu-se em 1891, nas páginas do jornal O Estado de São Paulo. Ao longo dos anos, publicou poemas em jornais e revistas, destacando-se pela alta qualidade dos versos, segundo os critérios do tempo. Embora vivendo um momento de consagração como grande poetisa até aquele instante, contudo, por razões nunca esclarecidas, Francisca Júlia abandona a vida pública em São Paulo e parte para Cabreúva, em 1906, onde sua mãe exercia o magistério. Passa a dedicar-se aos serviços domésticos e torna-se professora particular das crianças da região, dando aulas de piano, inclusive, a Erotides de Campos, que mais tarde viria a se tornar um famoso compositor paulista. Casa-se, em 1909, com Filadelfo Edmundo Munster (1865-1920), telegrafista da Estrada de Ferro Central do Brasil. Foi padrinho de seu casamento o poeta e amigo Vicente de Carvalho.Descobre, em 1916, a doença do marido (tuberculose) e mergulha numa depressão profunda, diz ter visões, que está para morrer e tem alucinações provenientes da intoxicação do ácido úrico. Com o passar dos anos a situação se agrava, suas poesias - as poucas que ainda escreve - retratam a vontade de uma mulher que almeja a paz espiritual fora do plano terrestre. Diz, em entrevista a Correia Junior, que sua "vida encurta-se hora a hora". Mesmo assim volta a escrever para A Cigarra e promete um livro de poesias chamado Versos Áureos.
Em 1920, Filadelfo, desenganado pelos médicos, vem a falecer no dia 31 de outubro. Horas depois do cortejo, no dia seguinte, Francisca Júlia vai para o quarto repousar e suicida-se ao ingerir excessiva dose de narcóticos, vindo a falecer na manhã de 1 de novembro de 1920 sobre o caixão do seu marido!

Mulheres Poetas inesquecíveis... O suícidio as ampara com a dureza da vida e da grandiosidade da dor... tão dolorida... tão imortal! Foi assim com, Virginia Woolf, com Florbela Spanca, com Francisca Julia da Silva Münster..., sem sentido para celebrar a vida resolvem amparar a eternidade com as mãos... e devolvem o corpo para Hades... A poesia destas mulheres se liquefazem em mim, em você, em nós: seus leitores!
                                       Ana Marly de Oliveira Jacobino
Virginia Woolf se suicidada no rio perto de sua casa
Virginia Woolf  nasceu em Londres em  25 de Janeiro de 1882 e morreu em Lewes em 28 de Março de 1941). No dia 28 de Março de 1941, após ter um colapso nervoso Virginia suicidou-se. Ela vestiu um casaco, encheu seus bolsos com pedras e entrou no Rio Ouse, afogando-se. Seu corpo só foi encontrado no dia 18 de abril.
Em seu último bilhete para o marido, Leonardo Woolf, Virginia escreveu:
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Querido,Tenho certeza de estar ficando louca novamente. Sinto que não conseguiremos passar por novos tempos difíceis. E não quero revivê-los. Começo a escutar vozes e não consigo me concentrar. Portanto, estou fazendo o que me parece ser o melhor a se fazer. Você me deu muitas possibilidades de ser feliz. Você esteve presente como nenhum outro. Não creio que duas pessoas possam ser felizes convivendo com esta doença terrível. Não posso mais lutar. Sei que estarei tirando um peso de suas costas, pois, sem mim, você poderá trabalhar. E você vai, eu sei. Você vê, não consigo sequer escrever. Nem ler. Enfim, o que quero dizer é que é a você que eu devo toda minha felicidade. Você foi bom para mim, como ninguém poderia ter sido. Eu queria dizer isto - todos sabem. Se alguém pudesse me salvar, este alguém seria você. Tudo se foi para mim mas o que ficará é a certeza da sua bondade, sem igual. Não posso atrapalhar sua vida. Não mais. Não acredito que duas pessoas poderiam ter sido tão felizes quanto nós fomos.V.

          Últimos segundos... (miniconto)_  Ana Marly de Oliveira Jacobino

  Tira as mãos do bolso. Sente o perfume das campânulas azuis invadirem o seu corpo. Tenta imaginar como pode viver sem o medo asfixiante. O cérebro parece pulsar. Medo? Sim! Viver lhe dá medo! A água entoa uma canção de amor. Tira os sapatos e entra no rio. Não afunda! Olha o riso espumante dos seixos. Apanha um punhado. Outro punhado maior. Coloca nos bolsos. As pedras parecem gargalhar. O fundo do rio é um berçário de vida. Acaricia o seu ventre; seco. Estéril? A vida borbulha. Uma bomba alemã explode lá fora. Terror. Sente protegida. Tem a sensação de ser envolvida pelo líquido amniótico.. Resolve ficar!”                                                                                     
                                                                                                          À Virginia Woolf.


Assista ao filme "The Hours Trailer" : http://youtu.be/cmFDGAPiKJE


  Convite

Sarau vai acontecer em 17 de Abril (terça-feira) 19h30 na sala 2 do Teatro Municpal Dr. Losso Netto
Os homenageados serão: Lygia Fagundes Telles e Funcionários do Teatro Municipal Dr. Losso Netto de Piracicaba
Entrada Franca
Locação: 100 lugares
Francisca Júlia: a "Musa Impassível", por Roberto Fortes
Rui Guedes. Acerca de Florbela. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1986.
 Literatura. Florbela Espanca
UOL Biografias: Virginia Woolf
Fotos google

Um comentário:

  1. luzia stocco6/4/12 06:51

    O sarau de abril vai arrasar!! Sou apaixonada pela Lygia, ou por suas obras!Ana Marly, abraço e obrigada por tanta alegria e aprendizado. Luzia

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