segunda-feira, 9 de abril de 2012

Charles-Pierre Baudelaire é seu aniversário...

"Baudelaire me pegou pela dor... Suas palavras feriram minhas entranhas e me faziam passar a fome e os maus tratos da população carente da  Paris do Século XIX. Olhos atentos em descobrir as misérias e denunciá-las em seus versos malditos. Malditos aos olhos dos endinheirados, que insistiam em ver sua Paris pelos salões suntuosos dos grandes bailes da época. Les fleurs du mal  amplia a nossa visão para a a queda; a expulsão do paraíso; o amor; o erotismo; a decadência; a morte; o tempo; o exílio e o tédio de toda uma população empobrecida."              
                                                  Ana Marly de Oliveira Jacobino
Charles Baudelaire, nasceu em Paris em 9 de Abril de 1821 e morreu em Paris em 31 de Agosto de 1867. Foi, sem dúvida, uma das mais controversas personalidades da literatura francesa, foi um dos maiores poetas universais de todos os tempos. Dedicou a sua vida à boemia embriagante e à força da palavra em forma da mais genuína emoção da poesia. É considerado um dos precursores do Simbolismo e reconhecido internacionalmente como o fundador da tradição moderna em poesia.
Baudelaire foi um "flanador" saia andando por Paris para olhar e depois escrever. Numa visão muitas vezes cáustica do mundo e da realidade, ele consegue impregnar a esta visão o lirismo agudo, quase imposto à realidade. Homem de emoções extremas, dilapidou o seu dinheiro nas noites e cafés parisienses, entregando-se ao sabor do absinto, extraindo da bebida verde, reza a lenda, todas as alucinações poéticas do mundo.

Em 1857 é lançado As flores do mal contendo 100 poemas. O autor do livro é acusado, no mesmo ano, pela justiça, de ultrajar a moral pública. Os exemplares são apreendidos, pagando de multa o escritor 300 francos e a editora 100 francos.
Essa censura se deveu a apenas seis poemas do livro. Baudelaire aceita a sentença e escreveu seis novos poemas "mais belos que os suprimidos", segundo ele.
                                               EMBRIAGUEM-SE_ Charles Baudelaire
É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a única questão. Para não sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso.
Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.

E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão: "É hora de embriagar-se! Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso". Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.
 A uma passante_ Baudelaire
    A rua em derredor era um ruído incomum,
    longa, magra, de luto e na dor majestosa,
    Uma mulher passou e com a mão faustosa
    Erguendo, balançando o festão e o debrum;

    Nobre e ágil, tendo a perna assim de estátua exata.
    Eu bebia perdido em minha crispação
    No seu olhar, céu que germina o furacão,
    A doçura que embala o frenesi que mata.

    Um relâmpago e após a noite! — Aérea beldade,
    E cujo olhar me fez renascer de repente,
    So te verei um dia e já na eternidade?

    Bem longe, tarde, além, jamais provavelmente!
    Não sabes aonde vou, eu não sei aonde vais,
    Tu que eu teria amado — e o sabias demais! 

    A sua poesia tendeu para a expressão de imagens cotidianas, o "visto pelo autor", tendo o poeta sido quem melhor, em sua época, intuiu a mudança radical provocada pela metrópole sobre a sensibilidade.
    As dificuldades financeiras fizeram com que voltasse a viver com a mãe, em 1859, limitando-lhe cada vez mais a essência de liberdade do caráter. Paralelamente, a saúde passou a definhar. A partir de 1862, passou a queixar-se constantemente de dores de cabeça, vertigens, náuseas e pesadelos. Os efeitos colaterais da sífilis adquirida quando jovem, devastavam-lhe a saúde, impondo-lhe sintomas que lhe traziam a sensação de estar a enlouquecer.
    Para tentar amenizar a situação financeira, deixou a França, em 1863, rumando para Bruxelas, na Bélgica, na tentativa de conseguir um editor para publicar os seus livros. Na capital belga piorou ainda mais a saúde. Desde então, viveu obscurecido por inúmeras doenças de origem nervosa. Em 1965 sofreu um ataque de apoplexia, que se tornaria constante, levando-o a afasia e paralisia parcial.  No dia 31 de agosto, esgotado monetariamente e fisicamente, Charles Baudelaire foi vítima de uma paralisia geral, morrendo assim como nascera, nos braços da mãe.

    Beleza? O teu olhar, infernal e divino,
    Gera confusamente o crime e o heroísmo,
    E podemos, por isso, comparar-te ao vinho.
    Conténs no teu olhar o poente e a aurora;
    Expandes os teus odores qual noite de trovoada;
    Teus beijos são um filtro e uma ânfora, a boca
    Tornando o herói covarde e a criança arrojada.
    Vens da treva mais negra ou descerás dos astros?
    Encantado, o Destino é um cão que te segue;
    Semeias ao acaso alegrias, desastres,
    E por dominares tudo é que nada te interessa.
    Caminhas sobre os mortos, que são o teu gozo;
    Das tuas jóias, o Horror é das que mais fascina,
    E entre tais enfeites, o próprio Assassínio,
    Vai dançando feliz no teu ventre orgulhoso... Charles Baudelaire
                                                          Convido você Leitor:

2 comentários:

  1. "Esperança, essa louca desvairada" - palavras de Baudelaire!

    Tenho um amigo bahiano que me prometeu há uns dez anos "As Flores do Mal"... ele me veio visitar e não trouxe as flores... suspeito que elas já se tenham murchado, embora digam que coisa coisa (flores do mal, no caso) sejam difíceis de morrer...

    adorei o post, porque adoro Baudelaire!
    Abraços,

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  2. Richard sempre digo que Baudelaire me pegou pelo estomâgo...suas poesias marcaram pela originalidade...lembro aprimeira que li ele fala de uma carcaça apodrecida como se estivesse falando de sua musa ...Ana Marly

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