Sossegue, coração! Não desesperes!
Sei que encontrou a perfeição,
Que tanto procuravas na solitude,
Triste do seu Eu ! Sinta no peito a alegria
De viver a perfeição nas suas poesias.
Sonhar foi preciso para na tênue luz,
Do seu quarto,em pé, ouvindo sua timidez,
Você inteirasse das suas tristezas,
E, escrevesse sobre a esperança,
Busca profunda do seu animus!
Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sono do Poeta vai muito além,
Do desassossego incestuoso,
Marcado pela alma em desalinho
Teimosa marca num temor disforme! Ana Marly de Oliveira Jacobino
Sossega, coração! Não desesperes!
-
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.
-
Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
- Fernando Pessoa, 2-8-1933.
Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!
Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.
Fernando Pessoa - O poeta de vários desdobramentos- O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração
Pessoa, Fernando. Lírica e dramática, In: Obras de Fernando Pessoa - Considera-se que a grande criação estética de Pessoa foi a invenção heteronímica que atravessa toda a sua obra. Os heterônimos, diferentemente dos pseudônimos, são personalidades poéticas completas: identidades que, em princípio falsas, se tornam verdadeiras através da sua manifestação artística própria e diversa do autor original. Entre os heterónimos, o próprio Fernando Pessoa passou a ser chamado ortônimo, porquanto era a personalidade original. Entretanto, com o amadurecimento de cada uma das outras personalidades, o próprio ortónimo tornou-se apenas mais um heterónimo entre os outros. Os três heterónimos mais conhecidos (e também aqueles com maior obra poética) foram Alvaro de Campos,ricardo Reis e Alberto Caieiro.
Querida Ana,
ResponderExcluirMeus parabéns.
Força, sempre, que a vida é luta renhida!
Um grande abraço,
Richard obrigada pela lembrança ... com carinho! Ana Marly
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