sábado, 7 de janeiro de 2012

Quem conta um conto...

"Escolher contos que nos deram uma visão mais concreta do mundo em que foi escrito e do seu escritor nos mostra com sutileza ou não da importância de lermos e lermos muito para somente, assim, vislumbrarmos um naco da importância do contista brasileiro para a literatura mundial..." Ana Marly de OliveiraJacobino
                                             A nova Califórnia_ Lima Barreto

É uma amostra do que é a ganância. Neste conto, um químico misterioso chamado Raimundo Flamel aparece na cidade de Tubiacanga. Anos depois de sua chegada, faz uma experiência na qual transforma ossos humanos em ouro. Ele convida três testemunhas (o farmacêutico, um fazendeiro e o coletor) para o ato, o realiza e depois desaparece da cidade. Então, os túmulos do cemitério da cidade, o "Sossego", começam a ser violados. Quando depois de um escândalo prendem dois violadores, eles eram o fazendeiro e o coletor, duas das testemunhas da experiência alquímica. Os dois revelam que havia um terceiro violador: era o farmacêutico. Quando a população descobre, vai até a casa do farmacêutico que promete divulgar a fórmula para transformar ossos humanos em ouro no dia seguinte. Assim, naquela madrugada a população inteira se esgueira para o cemitério para violar tantos túmulos quanto puderem (e ter tanto ouro quanto puderem depois). O que acontece é uma carnificina que deixa no cemitério em uma noite mais mortos que nos 30 anos anteriores. O único que não se mete na confusão é um bêbado da cidade, que calmamente anda na cidade-fantasma.

O bebê de tarlatana rosa_ João do Rio
Heitor de Alencar conta aos amigos barão Belfort, Anatólio de Azambuja e Maria Flor uma história que acontecera com ele num carnaval.
Na busca da luxúria e do prazer, Heitor cerca-se de amigos e atrizes no carnaval. Na primeira noite decidem ir a um clube de baixo nível o popular Recreio. Nesta boite Heitor se interessou por uma mulher fantasiada de bebê de tarlatana rosa, dá-lhe um beliscão e se separam.
Encontram-se brevemente mais uma vez na segunda de carnaval e na terça, quando Heitor no final da festa ia para casa, encontra novamente o “bebê”. Leva a moça para uma rua escura e começa a beijá-la, sente que ela tem um nariz postiço da fantasia, pede para tirá-lo e o “bebê” diz não. Mas Heitor insiste e enquanto beija, arranca o nariz postiço e vê “uma cabeça estranha, cabeça sem nariz, com dois buracos sangrentos atulhados de algodão, uma caveira com carne...” Sentindo nojo, Heitor começa a sacudi-la quando um guarda apita, Heitor sai correndo em desespero. Quando chega em casa percebe em sua mão “uma pasta oleosa e sangrenta”. Era o nariz do bebê de tarlatana rosa.
                                 Os contos brsileiros também estão nos quadrinhos
                                                  Pai contra mãe_Machado de Assis
Cândido Neves não gostava de trabalhar e não ficava muito tempo em emprego algum, depois de tentar vários ofícios assume a função de capturar escravos fugidos. Cândido casa-se com Clara que era órfã e morava com a tia Mônica. Os três passam a morar juntos e apesar da pobreza, divertem-se e fazem pancadas (festas). Até que o casal decide ter um filho, a contra gosto da tia.
Durante a gravidez, a situação financeira da família vai piorando até que no nono mês de gravidez de Clara, eles são despejados. Quando nasce o filho, tia Mônica insiste para que o menino seja entregue na “Roda dos enjeitados” para ser adotado. Cândido e Clara sofrem muito, mas aceitam. No caminho para a Roda, Cândido vê uma escrava fugida, captura a mulher e recebe uma gorda recompensa, podendo então manter seu filho em casa. Acontece que a escrava capturada estava grávida, e provavelmente abortou com os castigos recebidos pelo seu dono quando a recebera. Ficando,então, da amarga ironia de vida do filho de Candinho ter custado a vida do filho da escrava. Nesse final se justifica o título do conto Pai (Candinho) contra Mãe (escrava fugida).
 A caolha_ Júlia Lopes de Almeida
Conta-se a história de uma mulher repugnante, sem o olho esquerdo e que vivia a soltar pus da cavidade ocular vazia. A caolha tinha um filho – Antonico – que desde cedo sofria humilhações por causa do defeito da mãe – era chamado “o filho da caolha”. Quando criança Antonico abraçava e beijava a mãe, mas com o tempo passou a ter nojo e vergonha dela.
Depois de ser humilhado na escola e nos empregos por que passava, Antonico, já na juventude trabalhando de alfaiate, arranja uma namorada que lhe impõe como condição para que se casem que o rapaz abandone sua mãe.
Quando Antonico vai comunicar sua saída de casa, inventando uma necessidade de trabalho, a mãe o expulsa dizendo saber que ele tem vergonha dela. Arrependido, no dia seguinte, Antonico procura a madrinha, única amiga da caolha, para que interceda em seu favor junto à mãe.
A madrinha o leva à casa da caolha e revela o que sempre a mãe ocultava ao filho: que ela havia ficado caolha por culpa do filho que quando neném enfiou-lhe um garfo no olho esquerdo. Ao saber disso o filho desmaia e a mãe lamenta.

 O homem que sabia javanês_ Lima Barreto
O Homem que sabia Javanês não o sabia realmente. O conto é um relato de um amigo a outro sobre uma das espertezas que usou para sobreviver: fingir saber javanês e ensiná-lo. Logo aprendeu o alfabeto e meia dúzia de palavras e pôs-se a ensinar o velho que o contratou; logo já “lia” em javanês para o velho (que desistira de aprender) e publicava sobre Java. Foi nomeado cônsul e representou o Brasil em uma reunião de sábios; deu palestras e publicou pelo mundo sobre Java. No final do conto ainda estava em cargos consulares por “saber” javanês.
                                        Dentro da noite_ João do Rio
Um homem no metrô ouve o diálogo entre Rodolfo e Justino. O segundo pergunta ao primeiro porque andava sumido. Perguntava-se na cidade o motivo do rompimento do noivado de Rodolfo com Clotilde, jovem bela que então vivia chorando, ela e a família que estavam antes tão felizes com o noivado. Rodolfo então explica que fora obrigado a terminar o compromisso com a moça depois de os pais descobrirem suas tendências sádicas. Rodolfo conta que sentia prazer em enfiar alfinetes nos braços de Clotilde e ela vendo que a perturbação mental do rapaz só diminuía com a satisfação daquela tara, resignada consentia. Depois de descoberto, Rodolfo é obrigado a terminar o noivado e passa a pagar prostitutas para satisfazer seu sadismo e ainda conversando com Justino no metrô revela que ultimamente andava a escolher suas vítimas na rua, e quando uma loura embarcou noutro vagão, Rodolfo deixa-o para persegui-la.                         
    Incentivada pele leitura e pesquisa resolvo pedir permissão para publicar aqui na Agenda um conto meu:

                 Inventora de sonhos?! Ana Marly de Oliveira Jacobino

Enquanto sua mão risca o molde no tecido, algo de irreal lhe acontece. Sonho? Realidade? Ela trafega por estes dois mundos sem sair da cadeira, onde está sentada. As suas olheiras parecem ficar ainda maiores no seu rosto moreno. Sua mãe a chama de inventora de sonhos. Mas, será que é isto mesmo, que ela é? Cabelo preso formando uma fonte imaginária. Resquícios de batom rubro persistem nos seus lábios carnudos. Ela é assim, ama a vida na sua essência!
A tesoura corta o pano. As flores coloridas grudam no seu corpo e, ela se vê grudada no tecido. As fibras de algodão lhe fazem cócegas nos pés. Suas mãos manuseiam o tecido do seu corpo. Vibram as suas antigas células, agora transformadas em rosas. A solidão lhe deixa e a alegria flui neste jardim que tomou conta do seu corpo e do seu espírito. O seu envolvimento é tanto, ela não se dá conta de nada mais ao seu redor.
Sente a agulha atravessar o seu corpo e pontilhar sua pele em uma costura bem feita. Rosetas coloridas são feitas do seu corpo. Uma a uma espetam a sua vontade de se ver naquele trabalho deitado sobre a mesa. Ela, enfim, retoma a velha pratica do quebra cabeça. Agora não mais montado por ela, pois, agora ela é o quebra cabeça. Personifica a vontade de Cristo de sair e contar para todos; o homem é bom na sua essência.
E do tecido as rosas se formam em uma corbelha, uma a uma reformulam valores carregam a tristeza para dentro e as cobre com o pólen da alegria. Vez ou outra uma rosa se murcha e fica pendente tirando a energia da outra que perfila ao seu lado. Venho ao seu socorro, pois, eu mesmo sou aquela que morre, dou-lhe mais vida, sim, a minha própria vida. Uma a uma passam pelo fio da eternidade.
O quê? Sonhadora? Eu? O tecido do meu corpo, agora um ramalhete de rosas transformado por minhas mãos hábeis em um lindo terço. Sou a medalha da mãe Maria ao lado da cruz do seu filho o Cristo. Amém!
                                                                                                                                       fotos google

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