domingo, 4 de julho de 2010

104 anos Mario Quintana: Agend@


Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! Eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Ah! mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas... Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a Eternidade.
Nasci no rigor do inverno, temperatura: 1grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro - o mesmo tendo acontecido a sir Isaac Newton! Excusez du peu... Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto-superação. Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso! sou é caladão, introspectivo. Não sei porque sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros?
Exatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese. Outro elemento da poesia é a busca da forma (não da fôrma), a dosagem das palavras. Talvez concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido prático de farmácia durante cinco anos. Note-se que é o mesmo caso de Carlos Drummond de Andrade, de Alberto de Oliveira, de Erico Verissimo - que bem sabem (ou souberam) o que é a luta amorosa com as palavras.
                               ( Crônica escrita pelo poeta para a revista Isto É de 14/11/1984)

Poeminha do Contra



Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!

foto: cantimdanoticia.files.wordpress.com/2008/

Eu escrevi um poema triste 
Mário Quintana 



Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza...
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel...
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves...
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!
                                            (do Livro: A Cor do Invisível)
                                             foto: mardehistorias.files.wordpress.com/
O auto-retrato
Mário Quintana

No retrato que me faço
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...


às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão...


e, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,


no final, que restará?
Um desenho de criança...
Corrigido por um louco!
                                      (Do livro: Apontamentos de História Sobrenatural)
                                                 foto: mardehistorias.files.wordpress.com/


EU ESCREVI UM POEMA TRISTE
MARIO QUINTANA
Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza...
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel...
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves...
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!
foto: palavrastodaspalavras.files.wordpress.com/200

Sarau Literário Piracicabano de 13 de Julho de 2010


** Sarau da Bossa Nova 2:

HOMENAGEADOS: CARLOS LYRA, ROBERTO MENESCAL, BADEN POWEL, MARCOS E PAULO SÉRGIO VALLE e os MÚSICOS DO SARAU LITERÁRIO PIRACICABANO

Local: No Teatro Municipal “Dr. Losso Netto na sala 2 na Rua Gomes Carneiro, 136 -Piracicaba-SP
Dia: 13 de Julho (Terça-feira): 19h30 às 21h30
Ingresso: Gratuito (limite 100 lugares)
Classificação: Livre
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Publico o comentário sobre o livro "Tardes de Prosa"  do escritor e poeta Richard Mathenhauer

Minha amiga e Camarada de Letras, Ana Marly de Oliveira Jacobino, presenteou-me com o livro "Tardes de Prosa" escrito em parceria com outros escritores, dentre eles, a amiga sempre atenciosa Ivana Maria de França Negri, Dirce Ramos de Lima e Leda Coletti. O livro reune contos de diferentes temas e estilos, bem como disse João Baptista de Souza Negreiros Athayde, que faz a apresentação:



"(...) sendo coletânea, permite-nos navegas nas águas da multifária criatividade dos autores, cada um deles trazendo os frutos das inquietações tão próprias dos artistas da palavra (...)"

Sendo, pois, uma coletânea, o livro favorece ao leitor ler ao acaso, sem a necessidade de leitura contínua. Abre-se o livro e escolhe-se o conto a ser a si contado. Para um estudo de estilos, talvez isso não seja ideal, mas para um leitor que lê pelo prazer de ler, isso é uma delícia: a liberdade que a seqüência de capítulos não oferece.
Quem inicia é Ana Marly: "Será que pega? Pega não!" Quem conhece Ana, conhece o espírito que sopra a história. Se existe o preconceito (o protagonista tem câncer), existe quem ergue a flor e não a espada e mostra que conceitos, sobretudo os prés, são passíveis de mudanças, que a diferença pode unir ao invés de afastar e que a dor pode ser o móvel para dividir-se e espalhar amor aos que igualmente sofrem.
"Faz parte do teatro da vida sair de cena e migrar para dimensões mais elevadas para atuar em outros palcos"
Assim, conta-nos Ivana Maria sobre seu primeiro Dia das Mães sem sua mãe em "Eu tive mãe..." Li com um nó na garganta porque a comunhão da perda é algo que nos põe, se não em condição de entender o que o outro diz, pelo menos nos faz compreendê-lo com uma dose maior de sensibilidade. E, com uma fé exemplar, mais do que se resignar, ela aceita que a Morte é para todos, incluso para os que amamos, e se os corpos físicos separam-se, espiritualmente estão sempre caminhando conosco.
"Tardes de Prosa" ainda me promete mais experiências. É um presente que me deixou feliz porque, como já disse, adoro ganhar livros, e quando são livros vindos de gente tão especial, mais que um livro, é uma jóia que me cai à mão.


Ana, obrigado. Estou tendo tardes, noites e manhãs de agradabílissimas prosas.

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