Mesa 1 na Flip 2014: Poesia & Prosa
Mostrar que as fronteiras entre prosa e
poesia podem acontecer sem a importância que muitas vezes fazem os estudiosos
no assunto na demarcação tanto de uma, como da outra, no gênero literário foi o
tema em torno do qual três escritores de diferentes gerações e vertentes
criativas abordaram na Flip: Charles Peixoto, Eliane Brum e Gregorio Duvivier.
A jornalista Eliane Brum me marcou pela sua escrita e pelos seus comentários ao
falar que, a poesia a pegou, primeiro pela palavra oral, nas suas indas e
vindas como jornalista pelo Brasil, através das histórias que ouvia. Uma delas,
que fiz questão de anotar, foi a de, quando, ela perguntou a uma mulher, o que
uma parteira fazia e ouviu: “A parteira é chamada a povoar o mundo nas
horas negras da noite.”
Um tanto emocionada ela nos contou que, para uma de
suas reportagens, acompanhou por 115 dias a vida de uma senhora com um diagnóstico
de câncer: incurável. Testemunhou, o seu morrer para escrever uma história que a
doente não leria. “Eu queria que aquela reportagem acabasse o mais rápido possível porque
era brutal demais, mas ao mesmo tempo eu não queria que acabasse porque seria o
fim dela”, relata. Foi à poesia que a ajudou neste tempo de
questionamentos. “Há certas realidades que precisam ser inventadas para serem
suportadas”, nos falou Eliane,
foi a partir deste fato que ela, iniciou a escrita do seu primeiro livro, ao terminá-lo, estava “dilacerada com a experiência da
ficção”.
Brum confessa fazer um pacto com seus personagens, o de
contar a história delas e transformar o silêncio em palavra escrita. Hoje sabe
que a palavra não pode salvar e é insuficiente para dar conta da vida. “Essa
é a tragédia, e essa é a graça.”
A jornalista
num momento emociona toda a platéia ao contar ter conhecido uma menina com
olhos de velha, a Sonia, numa das
suas viagens a um país da América Latina; “E nós jornalistas que quando encontramos
uma criança com olhos de velha é porque aconteceu um crime ali. Sonia respirava
a morte porque a morte respirava dentro dela. Antes de voltar para o Brasil,
ela me agarrou e disse: não me deixe morrer.” Foi um confronto com a
impotência e ali Eliane entendeu que carregaria sempre esse sentimento.
A seguir, particularmente, não gostei da
colocação de Gregório Duvivier, encontrei nas suas palavras ironia ao mencionar:
“Sou
só um cara com um canal no Youtube e estava ao lado de Brum, ganhadora de todos
os prêmios jornalísticos, pessoa que salvou populações ribeirinhas, mulheres.”
Gregório disse ser leitor da obra de
Millôr Fernandes em quem reconhece, sem sombra de dúvidas, como em Chaplin e
Buster Keaton, o caráter de "humanidade". Relendo a obra de Millôr,
disse estar impressionado com a sua atualidade. "Millôr não envelhece porque
seu humor está cheio de poesia e humanidade".
O carioca Charles Peixoto foi um
dos poetas marginais responsável pela criação do grupo Nuvem Cigana, que reunia
pessoas interessadas em criar para diferentes meios, de forma coletiva e
individual. Peixoto está lançando um livro depois de mais de suas décadas de
silêncio. “Fiquei decepcionado quando fiz o “Marmota” e vi que estava matando
árvore para dar de comer a cupim”.
“Continuei escrevendo, é um impulso.
Espero que dê certo dessa vez, que alguém compre, que ele não encalhe todo”. Poeta marginal, ele disse que, talvez agora estejam
vendo que aquilo, o que faziam era tão ruim. Penso que ao falar de improviso
ele mostrou desdenhar da sua ida a Flip.
Terminou fazendo uma referencia sobre a vendagem de Paulo Leminski:
“Leminski é um mistério. Não sei o que
ele fez lá em cima. Não consigo entender, vender 100 mil exemplares de um livro
de poesia é uma loucura.”
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