A entusiástica fala de Paulo Werneck, ao iniciar a mesa me deixou num grande aforismo, afinal, tenho interesse na literatura russa;
“Alegria de ouvir o idioma russo pela primeira vez nessa tenda.
A mesa teve a mediação da conversa entre Elif Batuman (uma jovem de descendência turca, nascida nos Estados Unidos da América, filha de médicos pesquisadores residentes nos USA), junto a Vladímir Sorókin (alguns livros publicados, tais como: romances, peças teatrais e libreto de ópera, formado em engenharia e, uma das grandes vozes da Rússia no momento) na quinta-feira (31/08/2014) feita por Bruno Gomide.
Anotei
uma fala que me aproximou ainda mais do debate do escritor russo (um tanto
tímido, mas de uma fala critica, veemente). Vladimir diz que a literatura como
um todo vive no silêncio!
— Um filósofo espanhol
disse, certa vez, que a vida é um tiro. Eu diria que a literatura também é, mas
um tiro silencioso. Você não escuta nem sente a bala entrando em você, mas, uma
vez que acontece, torna-se uma pessoa que começa a descrever o mundo a sua
volta. Vladímir Sorókin recebeu com empatia os
aplausos dos participantes ao ler trechos de sua peça teatral
_Dostoievski-Trip.
“Ele
conta a história de um garoto e seu irmão, cujo avô foi vítima de uma bomba, o
pai morreu no front e a mãe morreu de tifo. O menino e seu irmão, ficaram
sozinhos morando nas ruas. Eles comiam qualquer coisa para sobreviver: trapos,
lascas de madeira, sapatos velhos e viam pessoas morrerem de fome e frio pelas
ruas. Essas crianças ao serem “cuidadas” por Peixe (um personagem fora da
lei), que, as orienta a recolherem “bundas” de cadáveres (mortos de fome e frio
pelo regime), para dar para á sua mulher fabricar hambúrgueres para vender para
os esfomeados (com pouco dinheiro). À noite no retorno para o esconderijo, a
mulher trazia pão e tabaco para o bando se alimentar. A história se desdobra
com a saída do irmão em busca de uma agulha sem retornar. Muito tempo depois,
ele sonhou com o irmão mostrando-lhe a agulha, dizendo-lhe:
_”Nesta agulha há 152 bundas!“ Em seguida, o morto pica a mão do
irmão, que começa, desde então, a escrever.
Vlademir por ser um crítico ferrenho do totalitarismo
russo mostrou sua preocupação no retorno a sua pátria.
Elif
Batuman debate:
“A
literatura russa tem uma reputação trágica, principalmente fora da Rússia. O
humor é mais difícil de traduzir. Os romances e os nomes dos personagens são
longos e trágicos. Acho que a comédia se perde um pouco com os nomes longos
demais. Mas é um humor humano, que não é cínico, como o francês, nem leve, como
o inglês. É uma forma mais sofisticada de humor, engraçado e triste ao mesmo
tempo.”.
“Os
possessos”, da escritora se torna uma analogia à uma antiga tradução de “Os
demônios”, de Dostoievski, já, Sorókin lança na Festa Literária,
“Dostoiévski-Trip”, sobre um grupo de junkies consumidores de drogas que
correspondem aos universos de grandes e médios autores.
Vladimir
conta sobre sua experiência como leitor e estudioso de Dostoievski , desmitificando a genialidade do escritor:
“— Dostoiévski escrevia muito rápido,
porque precisava ganhar dinheiro, e suas obras eram praticamente rascunhos,
muitas não eram nem relidas. É um estilo muito pesado, que acaba se perdendo na
tradução, já que muitos tradutores melhoram seu estilo. Apesar de ser
consagrado mundialmente, muitos, como (Vladimir) Nabokov, o odiavam. De fato é
muito trabalhoso ler Dostoiévski. É uma carnificina psicológica e de estilo.
Ele faz do leitor carne moída.”.
O russo fala
da dificuldade de escrever nos tempos do regime soviético:
“A
literatura foi proibida e nós escrevíamos para guardar na gaveta. Escrevíamos
para os amigos ou com a esperança de ser publicados nos exterior. No estado
totalitário não tem oposição, tem dissidentes. Na Rússia, infelizmente isso
está retornando. Os oposicionistas de hoje se tornaram dissidentes. Vivi e
sobrevivi ao totalitarismo e não gostaria que esse defunto do passado
submergisse. Muitos dos romances em que a literatura foi usada apenas de forma
política ficaram datados e não sobreviveram à sua época. Pessoas como Putin (o
presidente russo Vladimir Putin) vêm e vão. O romance fica.”.
Vladímir
Sorókin foi apaludido entusiasticamente pelo público presente na FLIP.
Encontro pelas ruas de Parati com Vladímir
Sorókin...uma surpresa alegre!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário