1936: García Lorca é fuzilado na Espanha (enviado por Richard Mathenhauer coordenador do Sarau Literário de Rio das Pedras)
No dia 19 de agosto de 1936, o poeta espanhol Frederico García Lorca foi fuzilado à queima-roupa por fascistas espanhóis.
Embora gostasse imensamente de viajar, o escritor espanhol Federico García Lorca nunca cortou os vínculos com sua terra natal, a "sua" Granada, de onde sempre sentia saudades quando estava longe. Lorca apreciava o passado glorioso da cidade.
Acima de tudo fascinava o poeta o período dos mouros, que deixaram na cidade a Alhambra, uma das edificações mais preciosas da história da arquitetura. "Ele se considerava um herdeiro de Boabdil, um dos últimos governantes mouros da cidade", diz Luís García Montero, o mais conhecido poeta e professor de Literatura de Granada hoje.
Apesar disso, a relação de Lorca com a cidade era ambígua. "Ele se sentia muito bem aqui, onde morava sua família. Naquela época Granada era um centro cultural muito importante, mas Lorca temia também os defeitos da cidade", diz García Montero. Lorca desprezava a classe alta reacionária de Granada.
Em julho de 1936, na última entrevista que concedeu, publicada pelo jornal El Sol, ele dizia que na cidade vivia "a pior burguesia de toda a Espanha". Essa declaração causou a ira dos fascistas locais, uma vez que Lorca já era então odiado por seu entusiasmo pela república e por seu homossexualismo.
Embora gostasse imensamente de viajar, o escritor espanhol Federico García Lorca nunca cortou os vínculos com sua terra natal, a "sua" Granada, de onde sempre sentia saudades quando estava longe. Lorca apreciava o passado glorioso da cidade.
Acima de tudo fascinava o poeta o período dos mouros, que deixaram na cidade a Alhambra, uma das edificações mais preciosas da história da arquitetura. "Ele se considerava um herdeiro de Boabdil, um dos últimos governantes mouros da cidade", diz Luís García Montero, o mais conhecido poeta e professor de Literatura de Granada hoje.
Apesar disso, a relação de Lorca com a cidade era ambígua. "Ele se sentia muito bem aqui, onde morava sua família. Naquela época Granada era um centro cultural muito importante, mas Lorca temia também os defeitos da cidade", diz García Montero. Lorca desprezava a classe alta reacionária de Granada.
Em julho de 1936, na última entrevista que concedeu, publicada pelo jornal El Sol, ele dizia que na cidade vivia "a pior burguesia de toda a Espanha". Essa declaração causou a ira dos fascistas locais, uma vez que Lorca já era então odiado por seu entusiasmo pela república e por seu homossexualismo.
Período crucial em Madri
A própria família do escritor era uma das mais ricas de Granada. Federico nasceu no dia 5 de junho de 1898 em Fuentevaqueros, um povoado na planície fértil aos pés da Serra Nevada, nas proximidades de Granada. Seu pai era um latifundiário.
No entanto, a família não era adepta dos costumes da classe abastada da época, que se comportava como verdadeiros senhores feudais. Os Lorca eram liberais e avessos à Igreja. A irmã de Federico, Concepción, se casou com o prefeito socialista Manuel Fernandéz Montesino, que foi mais tarde também executado pelos fascistas.
Lorca recebeu uma formação educacional exemplar. Ainda pequeno, já era notável sua aptidão para as artes. Ele era um orador eloqüente, além de demonstrar habilidades para a pintura e a música. Depois de iniciar seus estudos de Direito, Filosofia e Letras em Granada, ele se mudou para Madri.
No lendário alojamento de estudantes – a Residencia de Estudiantes – conheceu os artistas mais importantes de seu tempo. Fez amizade com Salvador Dalí, Manuel de Falla e Rafael Alberti, com o poeta Antonio Machado, com Pablo Picasso e muitos outros.
Drama e poesia
Lorca pertence à chamada "geração dos poetas de 1927" (Aleixandre, Cernuda, Guillén, Salinas, Unamuno), que popularizou a lírica espanhola em todo o mundo. Em Madri, escreveu suas primeiras grandes obras literárias.
Em 1928, publicou o Romanceiro Cigano, seu trabalho de maior sucesso. Nos anos seguintes, Lorca passaria a ser conhecido como renovador do drama no país com a publicação de Mariana Pineda (1928), Bodas de Sangue (1933), Yerma (1934) e A Casa de Bernarda Alba (1933-1936).
Em 1929, fez uma viagem aos Estados Unidos, onde escreveu O Poeta de Nova York, um livro muito apreciado. No entanto, não se sentindo à vontade na metrópole agitada e barulhenta, opta por uma vida mais retirada em Cuba no ano de 1930, retornando a seguir à sua terra natal. A Espanha, naquele momento, vivenciava uma ruptura política. No dia 14 de abril de 1931, era proclamada a Segunda República.
Em defesa das mulheres
Lorca defendia os ideais republicanos. Como diretor, viajou com o teatro ambulante La Barraca pelo interior do país, a fim de levar cultura e informação para o povo. Sem ser filiado a qualquer partido, tinha amigos entre as duas correntes políticas da Espanha em meados dos anos 1930. E se posicionava claramente contra as relações feudais comuns na Granada da primeira metade do século 20.
Lorca assumia, acima de tudo, a defesa das mulheres. Com suas peças em prol da autoafirmação feminina, tocava no zeitgeist. Suas obras são dominadas por personagens femininas, que se voltam contra a moral vigente e são capazes de morrer por seus ideais.
A morte está presente em toda a sua obra. As últimas frases em A Casa de Bernarda Alba parecem o prenúncio sinistro da tragédia que estava por vir: "Nenhum lamento. É preciso olhar a morte de frente. Lágrimas, só quando você estiver sozinho! Todos nós mergulhamos num mar de lágrimas. Silêncio. Silêncio".
Federico García Lorca foi fuzilado por fascistas no dia 19 de agosto de 1936, numa estrada nas proximidades de Viznar.
Redator(a):Steffen Leidel (sv)
© Deutsche Welle
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Palácio de Alhambra, situado numa encosta em Granada, é o Palácio da Andaluzia mais bem conservado. Embora tivesse sido começado em 1230, só dois séculos depois foi concluído. Alhambra significa vermelho, provavelmente uma alusão à cor dos tijolos que formam suas paredes. É um complexo de palácios, jardins e fontes.
FEDERICO GARCÍA LORCA
Ana Marly de Oliveira Jacobino
Eu pronuncio teu nome,
retalho florido da minha poesia.
Itinerante poeta dos meus sonhos
ora tão distante, ora tão perto,
ouço no seu murmurar ainda que distante
o meu nome em tua palavra escrita.
Choro pela morte.
Choro pelo poeta morto.
Salta do meu ventre dor e lamento,
repugna neste versejar o tirano!
Louco ditador em sua fúria demente
lava com sangue, mata a voz temerária do poeta
gela o dia frustra a paixão, resseca o amor.
Mata os frutos revela as iniqüidades.
Choro pela morte.
Choro pelo poeta morto.
Vespas rubras rasgam o ventre da terra,
coberta pelo sangue do injustiçado!
Soluçam as viúvas em sonhos
o vento devora as pétalas do cravo
a caneta cai da mão adormecida.
O estalo implode a alma.
Choro pela morte.
Choro pelo poeta morto.
Choro pelo seu assassinato.
retalho florido da minha poesia.
Itinerante poeta dos meus sonhos
ora tão distante, ora tão perto,
ouço no seu murmurar ainda que distante
o meu nome em tua palavra escrita.
Choro pela morte.
Choro pelo poeta morto.
Salta do meu ventre dor e lamento,
repugna neste versejar o tirano!
Louco ditador em sua fúria demente
lava com sangue, mata a voz temerária do poeta
gela o dia frustra a paixão, resseca o amor.
Mata os frutos revela as iniqüidades.
Choro pela morte.
Choro pelo poeta morto.
Vespas rubras rasgam o ventre da terra,
coberta pelo sangue do injustiçado!
Soluçam as viúvas em sonhos
o vento devora as pétalas do cravo
a caneta cai da mão adormecida.
O estalo implode a alma.
Choro pela morte.
Choro pelo poeta morto.
Choro pelo seu assassinato.
Poema V
Hilda Hilst
A FEDERICO GARCÍA LORCA
Hilda Hilst
A FEDERICO GARCÍA LORCA
(no dia 19 de agosto de 1936, o poeta espanhol Federico García Lorca foi fuzilado à queima-roupa por fascistas espanhóis).
Companheiro, morto desassombrado, rosácea ensolarada
quem senão eu, te cantará primeiro. Quem senão eu
pontilhada de chagas, eu que tanto te amei, eu
que bebi na tua boca a fúria de umas águas
eu, que mastiguei tuas conquistas e que depois chorei
porque dizias: “amor de mis entrañas, viva muerte”.
Ah! Se soubesses como ficou difícil a Poesia.
Triste garganta o nosso tempo, TRISTE TRISTE.
E mais um tempo, nem será lícito ao poeta ter memória
e cantar de repente: “os arados van e vên
dende a Santiago a Belén”.
Os cardos, companheiro, a aspereza, o luto
a tua morte outra vez, a nossa morte, assim o mundo:
deglutindo a palavra cada vez e cada vez mais fundo.
Que dor de te saber tão morto. Alguns dirão:
Mas se está vivo, não vês? Está vivo! Se todos o celebram
Se tu cantas! ESTÁS MORTO. Sabes por quê?
“El passado se pone
su coraza de hierro
y tapa sus oídos
con algodón del viento.
Nunca podrá arrancársele
un secreto.”
E o futuro é de sangue, de aço, de vaidade. E vermelhos
azuis, braços e amarelos hão de gritar: morte aos poetas!
Morte a todos aqueles de lúcidas artérias, tatuados
de infância, de plexo aberto, exposto aos lobos. Irmão.
Companheiro. Que dor de te saber tão morto.
"Poemas aos homens de nosso tempo”, Ed. Globo, São Paulo – 200, pág. 109.
Granada (Espanha) terra natal de Gabriel García Lorca.
Homenageados do Sarau Literário Piracicabano de 15 de Setembro de 2009:
ANO DA FRANÇA NO BRASIL:
Querida Ana!
ResponderExcluirQue bonita a homenagem que você fez ao grande Garcia Lorca, este poeta da minha adolescência, ainda da minha fase já adulta! Lindos os seus versos a ele!
Parabéns, e obrigado por nos presentear com um pouco mais de Lorca!
Richard
Caríssimo Richard: cada sarau é especial, não é mesmo? Parabéns pelas escolhas dos homenageados. Parabéns pelas músicas. Parabéns pela emoção que todos sentiram, Você viu que o sarau acabou e os participantes não queriam ir embora? Parabéns para Rio das Pedras por contar com você para animar a Literatura e a arte na cidade. Parabpens para os poetas e escritores e artistas da cidade Doçura!
ResponderExcluirAna Marly de Oliveira Jacobino (Lorca morreu mas a sua poética continua alimentando a alma dos amantes da poesia)