Branco, o Natal tropical_ Ana Marly de Oliveira Jacobino
Tudo ali cheirava mofo. Casa feita
de madeira compensada, frágil, mas de custo baixo. Toda refeita, o
fogo queimou a anterior. Perda total! Tito só queimou as mãos.
Queimadura de segundo grau... tentou salvar Pepita, a cadela do casal.
Dois dos seus filhos estavam presos desencaminhados pelos traficantes desde crianças. Conhecidos como, aviõezinhos, ou, mulas, serviam de ponte entre o traficante e o usuário. Tito não tinha tempo para participar da educação dos meninos, sempre... trabalhou no lixão, profissão: catador. Berenice sua mulher, também, catadora, mãe dos seis filhos vivos do casal levava-os juntos, ora, na barriga, ora, já, exposto ao mundo devorador.
Eles contavam os meses pelo lixo que catavam... Fevereiro e Março, muitas penas coloridas, restos de tecidos bordados, máscaras, e camisinhas..., isto mesmo, milhares de camisinhas enroladas em restos de lixo. Abril dos papéis brilhando com o doce do chocolate davam conta da Páscoa, eles, souberam desta novidade pelo Tonico, o Professor. ‘“Data importante esta, pois, um homem, dado como morto conseguiu voltar à vida.” Não acreditaram nesta prosa, o Tonico gosta de aumentar tudo...
Maio, mês de Berenice... a mulher troca tudo no barraco! Panelas, pratos, facas, garfos, potes plásticos... E, com ela, as novidades são: batom, calcinha, sutiã, meia calça, sapato de salto alto, peruca, pó de arroz, vestido florido... Repaginada total no visual. Tito ao vê-la tão bonita fica todo ouriçado. Gravidez na certa!
Calendário Festivo no lixão adentra pelo ano.
Dezembro, mês dos papéis bonitos de presente. Vermelhos com motivos de árvores, os dourados trazem um velho gordo de barba branca... Cartões com fotos de uma família arrodeada por animais, quase não são mais encontrados por lá... Tito percebeu o “Velho gordo e barbudo” de roupa vermelha foi tomando o lugar daquela família.
Tito e Berenice recolhem os restos de farofa, pernil, peru, tender das quentinhas de alumínio... para os seus bacuris, futuros aviõezinhos do Morte Lenta, o dono da favela.
Dia de Natal folga dos catadores, a fome garante o lugar no barraco.
Música alta no carro de som. Filharada na porta! Homem de barriga grande, barba branca, vestido de vermelho carrega um saco. Uma cambada vestida de verde... gorro pontudo na cabeça empurram as pessoas... truculência desnecessária destes ajudantes do bom velhinho! Tito chega perto do homem vermelho... recebe um presente. Sorri! Frango assado com farofa, pão, bolo... tudo envolvido num saco plástico. Agradece! Beija a mão do santo! Natal sem fome!
Barriga cheia! Bacurizinhos felizes! Tito se lembra do sorriso daquele bom velhinho de vermelho... “Ah! Eu sabia que o nosso protetor é o Morte Lenta!” Vira de lado e dorme o sono dos justos! O sono de um catador! O sono de mais um trabalhador brasileiro! E, sonha com ruas limpas e a sua casa de tijolos. Sonha o sono do super-herói: o reciclador.
Dois dos seus filhos estavam presos desencaminhados pelos traficantes desde crianças. Conhecidos como, aviõezinhos, ou, mulas, serviam de ponte entre o traficante e o usuário. Tito não tinha tempo para participar da educação dos meninos, sempre... trabalhou no lixão, profissão: catador. Berenice sua mulher, também, catadora, mãe dos seis filhos vivos do casal levava-os juntos, ora, na barriga, ora, já, exposto ao mundo devorador.
Eles contavam os meses pelo lixo que catavam... Fevereiro e Março, muitas penas coloridas, restos de tecidos bordados, máscaras, e camisinhas..., isto mesmo, milhares de camisinhas enroladas em restos de lixo. Abril dos papéis brilhando com o doce do chocolate davam conta da Páscoa, eles, souberam desta novidade pelo Tonico, o Professor. ‘“Data importante esta, pois, um homem, dado como morto conseguiu voltar à vida.” Não acreditaram nesta prosa, o Tonico gosta de aumentar tudo...
Maio, mês de Berenice... a mulher troca tudo no barraco! Panelas, pratos, facas, garfos, potes plásticos... E, com ela, as novidades são: batom, calcinha, sutiã, meia calça, sapato de salto alto, peruca, pó de arroz, vestido florido... Repaginada total no visual. Tito ao vê-la tão bonita fica todo ouriçado. Gravidez na certa!
Calendário Festivo no lixão adentra pelo ano.
Dezembro, mês dos papéis bonitos de presente. Vermelhos com motivos de árvores, os dourados trazem um velho gordo de barba branca... Cartões com fotos de uma família arrodeada por animais, quase não são mais encontrados por lá... Tito percebeu o “Velho gordo e barbudo” de roupa vermelha foi tomando o lugar daquela família.
Tito e Berenice recolhem os restos de farofa, pernil, peru, tender das quentinhas de alumínio... para os seus bacuris, futuros aviõezinhos do Morte Lenta, o dono da favela.
Dia de Natal folga dos catadores, a fome garante o lugar no barraco.
Música alta no carro de som. Filharada na porta! Homem de barriga grande, barba branca, vestido de vermelho carrega um saco. Uma cambada vestida de verde... gorro pontudo na cabeça empurram as pessoas... truculência desnecessária destes ajudantes do bom velhinho! Tito chega perto do homem vermelho... recebe um presente. Sorri! Frango assado com farofa, pão, bolo... tudo envolvido num saco plástico. Agradece! Beija a mão do santo! Natal sem fome!
Barriga cheia! Bacurizinhos felizes! Tito se lembra do sorriso daquele bom velhinho de vermelho... “Ah! Eu sabia que o nosso protetor é o Morte Lenta!” Vira de lado e dorme o sono dos justos! O sono de um catador! O sono de mais um trabalhador brasileiro! E, sonha com ruas limpas e a sua casa de tijolos. Sonha o sono do super-herói: o reciclador.
Capitalismo Natalino_ Ana Marly de Oliveira Jacobino
Rua 25 de Março aglomerada
Empurra, empurra, empurra...
Sacolas recheadas de valores
Desvalorizados pelo mundano
Jeito capitalista do ser humano!
Menino Deus feito de plástico
Sorri um sorriso de abandono
Trocado por um gorducho,
Branquelo de roupa vermelha.
Luzes, câmera, ação...
Canal de televisão entra no ar.
Morte do filho de José, o carpinteiro
Por bala perdida acaba com o Natal
Lá no bairro Belenzinho, o silêncio
Dolorido abafa a dor de Maria,
Agora, sem seu filho,
Enquanto isto, Noel passa no caminhão
Carregado de Coca cantando o Jingle Bells!
fotos google
Rua 25 de Março aglomerada
Empurra, empurra, empurra...
Sacolas recheadas de valores
Desvalorizados pelo mundano
Jeito capitalista do ser humano!
Menino Deus feito de plástico
Sorri um sorriso de abandono
Trocado por um gorducho,
Branquelo de roupa vermelha.
Luzes, câmera, ação...
Canal de televisão entra no ar.
Morte do filho de José, o carpinteiro
Por bala perdida acaba com o Natal
Lá no bairro Belenzinho, o silêncio
Dolorido abafa a dor de Maria,
Agora, sem seu filho,
Enquanto isto, Noel passa no caminhão
Carregado de Coca cantando o Jingle Bells!
fotos google
Muito lindos: cronica e poema!
ResponderExcluirSempre fui pobre mas,graças á Deus, minha miséria nunca chegou a tais extremos, imagino que no lixão nem teria sobrevivido ( sou frágil demais...)e, minha mãe era professora ( naquele tempo diziam só funcionária publica).
Sua inspiração è fantastica!
Ah! O mundo e suas diversidades! Maravilhoso constatar que alguém sabe , denuncia e se importa .
Que Deus se apiede de todos: bons e maus, ricos e pobres, carentes e indiferentes.
Dirce minha querida amiga escritora: bom ler seu comentário que nos faz aprisionar as palavras bem perto do coração. Obrigada e um feliz natal ao lado dos seus amores. Obrigada. CaipiraicacabANA
ResponderExcluirMaravilha,Ana!! Que todos guardem o Menino que nasceu no coração! beijos,adorei tua poesia e está lá! Obrigadão! chica
ResponderExcluirMe fez lembrar o filme documentário Lixo Extraordinário, muito belo e interessante. Vale a pena conferir, bj!
ResponderExcluirObrigada pela publicação no Sementinhas, Chica. Volte sempre! CaipiraicabANA
ResponderExcluirAndrea minha querida amiga: fiz um trabalho voluntário há tempos atrás com pessoas que trabalhavam no lixão e sempre que posso escrevo algo para conscientização das pessoas. Obrigada pela visita. Volte sempre! CaipiraicabANA Marly
ResponderExcluirOlá, Ana.
ResponderExcluirQue seu Natal tenha sido repleto de boas emoções.
Concordo plenamente com o que você escreveu. Há tempos noto que o Espírito da data ficou relegado. As pessoas não respeitam mais tradições, nem datas: ora, Natal é Natal, não é, por exemplo, Ano Novo.
As lojas ficam abarrotadas, mas, ficam abarrotadas as Igrejas? Se alguém se esqueceu de comprar o presente, fica desesperado. Mas, dispensou um tempo para suas orações de louvor ao Menino Jesus? - e olha que quem escreve isso é alguém agnóstico, hein!
Aqui, as pessoas buzinavam, soltavam rojões, gritavam, e da minha casa (passei sozinho o Natal) dava para ver a praça da Matriz, e de lá vinham sons nada natalinos: funk, sertanejo e outras.
Assim é que se descontrói para a construção de sabe lá o que. Mas, certamente, de algo que há de beneficiar alguém. Como o capitalismo e a individualização do sujeito.
Um abraço a todos vocês,
Richard
OLÁ ANA!
ResponderExcluirEXCELENTE ESTE POEMA.
VEM DE ENCONTRO AO QUE
SEMPRE PENSEI MAS NUNCA
CONSEGUI EXPRESSAR EM
PALAVRAS.
NADA COMO UMA POETA
PARA FAZER ISTO .
BEIJOS,
INÊS
Obrigada pelo retorno caro Afilhado Richard... senti isso na celebração, ontem, tão linda e a igreja pela metade...tempos de desertificaão da alma.
ResponderExcluirAna (vou publicar o seu comentário no blog.
Nossa que alegria ao ler o comentário da Inês sempre é bom receber um retorno pelo que fazemos... obrigada a Inês pelas palavras de incentivo e a você Aninha por compartilhar.
ResponderExcluirBeijos poéticos desta CaipiraicabANA Marly