quinta-feira, 3 de maio de 2012

Mario Quintana; como esquecer de você?

Mario de Miranda Quintana foi poeta, tradutor e jornalista . Nasceu em Alegrete na noite de 30 de julho de 1906 e faleceu em Porto Alegre, em 5 de maio de 1994, o Agenda Cultural Piracicabana presta uma homenagem a este homem que suavizou a vida com as suas tiradas alegres e jocosas. Fez da poesia um movimento de dosagem das palavras, procurava a síntese, o simples, o belo... Conviveu e escreveu sobre a morte com escárnio muitas vezes: " Idades só há duas : ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a eternidade." E, morreu... Quem se lembra da sua morte, se teve a ousadia de morrer junto a um famoso corredor  automobilisto de sucesso? Eu me lembro de você, Mário Quintana, sempre! Saravá!
                                                              Ana Marly de Oliveira Jacobino
   Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão.
                                                           BILHETE
Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...

Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que nunca acho que escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto-superação. Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso ! sou é caladão, instrospectivo. Não sei por que sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros ?
                                                   Os poemas Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhoso espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
Esperança_ Mário Quintana
Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...
Hotel Magestic em Porto Alegre(moradia do poeta por muitos anos) , hoje Casa de Cultura Mário Quintana
"Olha, naturalmente o que mudou foi a arquitetura, não é? Eu vejo sempre uma cidade dentro da outra e lembro aquela cidade antiga. Mas pra me lembrar dela eu tenho que fechar os olhos ).
 Porto Alegre, antigamente, era muito mais calma. Não havia tantos assaltos, tanta violência... eu nasci no tempo das vacas gordas. Antes, o leiteiro deixava o leite na porta de casa e ninguém roubava. Hoje roubam até as galinhas dos despachos. Os tempos mudaram, os costumes, mas a vida continua a mesma. Eu não sou como aqueles velhos que dizem: "Ah, os bons velhos tempos..." eu tenho vontade de dizer para eles: "Olha seu moço... seu moço, não, seu velho. Os tempos são sempre bons, o senhor é que não presta mais... Mário Quintana.
                                 +um Poema de Quintana
Os antigos retratos de parede
Não conseguem ficar longo tempo abstratos.
Às vezes os seus olhos te fixam, obstinados
Porque eles nunca se desumanizaram de todo.
Jamais te voltas para trás de repente.


Não, não olhes agora!


O remédio é cantares cantigas loucas e sem fim...


Sem fim e sem sentido.

Dessas que a gente inventava para enganar a

Solidão dos caminhos sem lua.

 (do livro "Esconderijos do Tempo - composto após os 70 anos de idade)
                              Fonte:
 QUINTANA, Mário. Esconderijos do tempo. Porto Alegre: L&PM,1980.
"Nova Antologia Poética", Editora Globo - São Paulo, 1998, pág. 118.
      http://www.ccmq.rs.gov.br/novo/mario/mario2.php
      Entrevista concedida à:Joana Belarmino e Lau Siqueira em 16 de janeiro de 1987.
      foto google e Dulce Helfer   

2 comentários:

  1. Que lindo ver Quintana lembrado e trazido aqui!! Bela homenagem!!beijos,chica

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  2. Chica você me deixa feliz com seus comentários, ainda mais que você gostou da homenagem ao nosso Mário. Abraços desta CaipiraicabANA Marly de Oliveira Jacobino

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