quinta-feira, 23 de julho de 2009

Chico Buarque na Festa Literária em Paraty, aqui na Agend@!



Tanto “Órfãos do Eldorado”, de Hatoum, e “Leite Derramado”, de Chico, são narrados por velhos centenários, atordoados por personagens femininas envolventes e marcantes. As coincidências são tão fortes que Chico confessou ter pensado, ao ler a novela de Hatoum: “Diabo, esse cara copiou meu livro! E ainda lançou mais rápido, em março”, brincou. Mais tarde, bem à vontade, voltou à carga: “Imaginação não existe, tudo já estava no Google. No meu e no seu”.



Cicho Buarque autografando o seu romance-histórico "Leite Derramado"











Chico Buarque distribuindo autógrafos esbanjou simpatia!








A beleza das ruas do centro histórico de Paraty




CHICO BUARQUE E A REVOLUÇÃO FRANCESA!?
Ana Marly de Oliveira Jacobino

Dezenove! Dezenove horas! Ele entra no palco, abraçado ao amigo Milton Hautoum. Aplausos! Frenesi! Todos os lugares ocupados! A praça foi pequena para conter tamanha multidão. Os ingressos nem chegam às mãos da grande maioria dos pobres mortais. Apenas algumas centenas de abonados, sortudos, conseguem se instalar nas poltronas macias da Tenda dos Autores, e alguns um pouco menos sortudos na Tenda do Telão.
Peço ao meu marido para ficar na fila dos autógrafos, com o Leite Derramado em suas mãos.
Bem! Dependurada como bandeira a meio pau na grade, a qual circunda a Tenda do Telão, estou eu! Assisto um dos compositores que embalaram a minha vida. Aprendi a gostar das suas letras poéticas na infância ao assistir ao Festival da Record em que meu tio Marconi Campos, integrante do Trio Marayá, acompanhou Jair Rodrigues na magistral Disparada.
Final do festival da canção, a platéia se viu dividida em seus aplausos entre “Disparada composta por Geraldo Vandré e Theo de Barros”, e, “A Banda de Chico Buarque de Holanda”. O juri deu empate, e dessa maneira, as duas músicas, se sagraram vencedoras.
Cantei com força naquele dia histórico, e hoje me assombro, com a beleza da letra, em especial um fragmento da magistral Disparada, o qual penso, precisamos entender em definitivo o que diz; “mas com gente é diferente”:

“Mas o mundo foi rodando nas patas do meu cavalo
E nos sonhos que fui sonhando, as visões se clareando
As visões se clareando, até que um dia acordei
Então não pude seguir valente em lugar tenente
E dono de gado e gente, porque gado a gente marca
Tange, ferra, engorda e mata, mas com gente é diferente
Se você não concordar não posso me desculpar
Não canto pra enganar, vou pegar minha viola
Vou deixar você de lado, vou cantar noutro lugar”

Aplaudi, cantei e gritei, levantando o cartaz por Disparada, mas, dividida, também cantei; A Banda com Nara Leão.
Lembro do Chico de smoking preto, em pé, duro como um pedaço de pau segurando o violão ao lado de Nara, enquanto, Jair Rodrigues, o Trio Marayá, e o Trio Novo interpretam Disparada .
Recordo do sorriso largo na sua boca, enquanto, Jair Rodrigues ao seu lado, bate palmas, e o público o acompanha:”Pra ver a banda passar cantando coisas de amor...”
Meu marido chega e fala:
_O Dawkin vem da Inglaterra até aqui, e deu autógrafos e o babaca do Chico não vai dar.
Pedi para ele, assim mesmo, voltar para a fila.
Aplausos!
_ Ele me copiou e foi mais rápido. Publicou antes de mim, mas eu sou inocente! Disse Chico.
Chico e Milton Hatoum comentam sorrindo, a similaridade entre as obras que acabaram de escrever.
Logo a minha frente um bêbado, já no interior da tenda; gritou para o telão:
_Chico estou aqui. Fala comigo!
Os seguranças o agarram e ele aos gritos continua a chamar a atenção de todos.
_Chico estou aqui. Fala comigo.!

Na sua camiseta está escrito com caneta hidrocor preta, a frase:
Liberté, Egalité, Fraternité
Os dois autores continuam a conversa.
Chico Buarque apóia o protesto dos caiçaras da região ao ler:
_Eles evidentemente apóiam e aprovam o turismo cultural promovido pela Flip e por isso fizeram a passeata, para chamar a atenção quanto ao perigo que correm com outro tipo de turismo, o predatório.
Enquanto isto, o bêbado do outro lado, no alto do poste na Tenda do Telão, grita para a imagem do Chico, erguendo os punhos para o alto:
_ Chico estou aqui. Fala comigo! Liberté, Egalité, Fraternité.!Liberté, Egalité, Fraternité! Liberté, Egalité, Fraternité (...)
Os seguranças cogitam subir para tirá-lo, mas, ele grita mais forte:
_ Liberté, Egalité, Fraternité!
A mesa dos autores termina e tento chegar a Tenda dos Autógrafos, arrodeando o outro lado da igreja. Fico parada perto da escada da tenda sem poder me movimentar. Depois de duas horas em pé as minhas pernas estão amortecidas. Os minutos passam e muitos repórteres me espremem, e, me jogam para o outro lado da calçada.
A sorte me sorri!Os fotógrafos e repórteres me ajudam! O Chico sorrindo rodeado de seguranças, espremido pelo batalhão de fotógrafos e repórteres, passa ao meu lado.
Não acredito! Espero a multidão dispersar. Meu marido agoniado no meio do povo me acena. Aos trancos e barrancos consigo depois de muitos empurrões me aproximar dele. Claustrofóbico, ele me agita o Leite Derramado e a senha 52, e diz:
_ O que a gente não faz por amor.
Declaração de amor a parte. Cutucada, empurrada, pisoteada..., chego nele.
Abro um sorriso de orelha a orelha e digo:
_Chico estive no festival da Record em que você ganhou com “A Banda”. O meu tio Marconi cantou com o Trio Marayá junto com Jair Rodrigues. Você se lembra do Trio?
_Trio Marayá, lógico que lembro. E o seu tio como está?
_Ah! Ele morreu em 2003.
Nisto ainda me olhando, sorrindo, autografa o livro, enquanto, sou empurrada para longe dele.
A minha perna está trêmula pelo cansaço. Estou feliz!

3 comentários:

  1. Olá amiga. Neste sábado, logo de manhã, indo ao JP, ouvi o Alexandre Bragion ler a sua história dos "Paulos" no Educativa nas Letras. Ficou muito bem interpretado.
    E, é claro, me lembrei de vc. E dei risadas de "ouvir" a história mais uma vez. Em resumo, comecei bem o meu sábado.
    Agora, depois de um breve sumiço, volto ao blog e ouço a história de Chico, para encerrar o meu domingo melhor.
    Gosto muito da forma como descreve os fatos, da riqueza dos detalhes.
    Vou sentir falta das atualizações, mas sei que deve ficar ausente por um bom motivo!
    Grande bjo e tudibom!!!

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  2. Carinhoso Rodrigo: como fico feliz em ler os seus comentários é um bálsamo para a minha alma. Obrigada de coração.

    Ana Marly de Oliveira Jacobino

    PS: luto muito para colocar as coisas que escrevo, mas penso que não podia furtar de escrever sobre os acontecimentos em Paraty.

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  3. Oi, Ana Marly!
    Estávamos devendo algumas visitas ao seu suuper BLOG! Então, cá estamos! Parabéns pelo BLOG!
    E parabéns pela crônica dos "Paulos" - como comentei no BLOG do Educativa, por que você não envia essa crônica ao Paulo Betti? Ou seria o Paulo Coelho?...rsrsrsr...
    Abraços!
    Ah... acabei de lincar o seu BLOG no BLOG do programa.

    Alexandre Bragion
    Equipe Educatova nas Letras!

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