sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Fernando Pessoa um bom gourmet!

"O paladar apurado do "Poeta" pelas palavras é conhecido por todos. Fernando Pessoa leva o seu gosto pela gastronomia nos seus escritos. Josiane Souza, minha professora e orientadora nos bons tempos de aluna  contou sobre esta paixão deste português de linguagem universal, ele faz a ligação entre  sobrevivência do homem "o comer"; junto as palavras e ao alimento. Saborear a comida na literatura é complementar o manjar dos deuses na vida do leitor!" 
                                                   Ana Marly de Oliveira Jacobino
"Descasquei o camarão // tirei-lhe a cabeça toda // Quando o amor não tem razão// É que o amor incomoda". Fernando Pessoa
O restaurante "Leão D'Ouro", servia o ensopado de camarão que Fernando apreciava. O  local foi encontro dos artistas plásticos, funcionários que trabalham no Teatro Nacional e outras pessoas  O restaurante agora funciona do lado do antigo.
                                 Receita do ENSOPADO DE CAMARÃO 
 500g de camarão pequeno, 300g de pão de trigo, 4 colheres de sopa de leite, 750g de tomates, 2 cebolas grandes, 3 colheres de sopa de vinho branco seco, 2 colheres de sopa de suco de limão, 5 colheres de sopa de azeite, 1 fatia de queijo sal e pimenta a gosto.
Modo de Fazer: Refogue no azeite cebolas em rodelas e tomates  cortados em cubos. Junte o camarão descascado. Deixe ferver por 10 minutos. Corte o pão em fatias finas. Junte leite, sal, pimenta e gotas de limão. Em panela grande coloque azeite. Faça camadas alternadas de pão e do refogado de camarão. Em cima da última camada de pão coloque o vinho, o restante do leite (o mesmo onde o pão ficou marinando), o queijo, Tampe a panela e deixar ferver. Sirva bem quente.
No Largo de São Carlos, n.º 4-4.º Esquina está localizada a casa onde nasceu Fernando António Nogueira Pessoa, a 13 de Junho de 1888.  O edifício agora pertence à Caixa Geral de Depósitos, foi classificado pelo Instituto de Gestão do Património, recuperado e alugado. O pai, Joaquim de Seabra Pessoa, natural de Lisboa, era funcionário público do Ministério da Justiça e crítico musical do Diário de Notícias. A mãe, D Maria Magdalena Pinheiro Nogueira Pessoa, era natural dos Açores (mais propriamente, da Ilha Terceira).
Em Lisboa às cinco horas da manhã de 24 de Julho de 1893, o pai morreu, com 43 anos, vítima de tuberculose. A morte foi anunciada no Diário de Notícias do dia. Fernando tinha apenas cinco anos. O irmão Jorge viria a falecer no ano seguinte, sem completar um ano. A mãe vê-se obrigada a leiloar parte da mobília e muda-se para uma casa mais modesta, o terceiro andar do n.º 104 da Rua de São Marçal. Foi também neste período que surgiu o primeiro heterónimo de Fernando Pessoa, Chevalier de Pas, facto relatado pelo próprio a Adolfo Casais Monteiro, numa carta de 1935, em que fala extensamente sobre a origem dos heterónimos.
Ele jantava sempre às sete da noite.  Ele apreciava  uma boa sopa entre todas o caldo verde , prato que recebe o nome por conta da couve cortada bem fininha misturada à sopa tinha o seu aval.
                                             Caldo Verde

500gr de batatas, 1 paio, 2 dentes de alho, 4 colheres de sopa de azeite, sal, 200gr de couve.
Modo de Fazer: cozinhe as batatas em 2 litros de água com o paio cortado em rodelas  e sal a gosto. Com as batatas cozidas, esprema e misture com o caldo. Coloque a couve, a metade do azeite e deixe no fogo até que a couve esteja cozida. Na hora de servir acrescente o restante do azeite.
                          Nesto local em Lisboa Fernando Pessoa residiu muitos anos
         Pessoa foi educado na África do Sul, para onde foi aos seis anos em virtude do casamento de sua mãe, Pessoa aprendeu perfeitamente o inglês, língua em que escreveu poesia e prosa desde a adolescência. Das quatro obras que publicou em vida, três são na língua inglesa. Fernando Pessoa traduziu várias obras inglesas para português. Tendo de dividir a atenção da mãe com os filhos do casamento e com o padrasto, Pessoa isola-se, o que lhe propicia momentos de reflexão.
Deixando a família em Durban, regressa definitivamente à capital portuguesa, sozinho, em 1905. Passa a viver com a avó Dionísia e as duas tias na Rua da Bela Vista, n.º 17. A mãe e o padrasto regressam também a Lisboa, durante um período de férias de um ano em que Pessoa volta a morar com eles. Continua a produção de poemas em inglês.

Dobrada à moda do Porto” fazia Pessoa esquecer do resto do mundo, acredite ele  dedicou um poema ao prato e dizem que ele escreveu no restaurante “Ferro de Engomar”, no Benfica.
                                             Dobradinha à moda do Porto
 1kg de dobrada de vitela com suas tripas, folhos, favos e a touca, 150g de chouriço, 150g de olheira, 150g de toucinho entremeado ou presunto, 150g de salpicão, 150g de carne de cabeça de porco, 1 frango, 1kg de feijão, manteiga, 2 cenouras, 2 cebolas grandes, 1 colher de sopa de banha, 1 ramo de salsa, 1 folha de louro, sal e pimenta.


Modo de fazer: lavar bem a dobrada, esfregando sal e limão. Cozinhar em água e sal.Deixar do lado. Em outra panela cozinhar as outras carnes e o frango. Deixar do lado. Cozinhar também feijão com cebola e cenoura cortada em rodelas. Em um tacho grande colocar a banha e a cebola. Juntar todas as carnes cortadas em pedaços grandes. Depois o feijão. Temperar com sal, pimenta, louro e salsa. Deixar no fogo por meia hora. Servir em cumbuca de barro ou porcelana, acompanhado de arroz branco.

Pessoa e a paixão pelo chocolate
Inicia a sua atividade de ensaísta e crítico literário com o artigo «A Nova Poesia Portuguesa Sociologicamente Considerada», a que se seguiriam «Reincidindo…» e «A Nova Poesia Portuguesa no Seu Aspecto Psicológico» publicados em 1912 pela revista A Águia, órgão da Renascença Portuguesa. Frequenta a tertúlia literária que se formou em torno do seu tio adoptivo, o poeta, general aposentado Henrique Rosa, no Café A Brasileira, no Largo do Chiado em Lisboa. Mais tarde, já nos anos vinte, o seu café preferido seria o Martinho da Arcada, na Praça do Comércio, onde escrevia e se encontrava com amigos e escritores.
                       Come chocolates, pequena; Come chocolates!


Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
                                       Álvaro de Campos, Tabacaria

Pessoa foi internado no dia 29 de Novembro de 1935, no Hospital de São Luís dos Franceses, em Lisboa, com diagnóstico de "cólica hepática" causada por cálculo biliar associado a cirrose hepática, diagnóstico que é hoje contestado por estudos médicos, embora o excessivo consumo de álcool ao longo da sua vida seja consensualmente considerado como um importante factor causal. Segundo um desses estudos, Pessoa não revelava alguns dos sintomas mais típicos de cirrose hepática, tendo provavelmente sido vítima de uma pancreatite aguda.
 Morreu no dia 30 de Novembro, com 47 anos de idade. Sua última frase foi escrita na cama do hospital, em inglês, com a data de 29 de Novembro de 1935: "I know not what tomorrow will bring" ("Não sei o que o amanhã trará")
Os Irmãos Unidos, no Rossio (Lisboa), era um restaurante que pertencia ao pai de Alfredo Guisado. Aqui se reunia a geração do Orpheu, e para ele, Almada Negreiros pintou o retrato de Fernando Pessoa, em 1954, que presentemente se encontra na Casa Fernando Pessoa.

Transcrevo aqui do heterônimo Álvaro de Campos,os versos do prato preferido de Fernando Pessoa:
                                        Dobrada à moda do Porto
Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,
Serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
Que a preferia quente,
Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.
Impacientaram-se comigo.
Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
E vim passear para toda a rua.
Quem sabe o que isto quer dizer?
Eu não sei, e foi comigo...
(Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim,
Particular ou público, ou do vizinho.
Sei muito bem que brincarmos era o dono dele.
E que a tristeza é de hoje).
Sei isso muitas vezes,
Mas, se eu pedi amor, por que é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio,
Mas trouxeram-no frio.
Não me queixei, mas estava frio,
Nunca se pode comer frio, mas veio frio.


V. Raízes de Fernando Pessoa em Terras de Santa Maria, Maria Lucília Camacho Lopes Vianna Lencart, Águeda : Soberania do Povo, 1990, 191 pp.)

 Francisco Fonseca Ferreira, A Penumbra do Génio, Livros Horizonte, Lisboa, 2002
Charles McGrath. "In Arizona back country, a gourmet life", International Herald Tribune, 26 de janeiro de 2007.
A Lisboa de Fernando Pessoa – Uma Fotobiografia / Marina Tavares Dias, Assírio & Alvim, Lisboa, 1998; Fernando Pessoa / Maria José de Lancastre, Quetzal Editores, Lisboa, 1996.

"A Agenda Cultural Piracicabana outorga a "Feijoada Completa"; como homenagem a este poeta que tão bem colocou o prato gastronômico na mesa da palavra! Fernando Pessoa, sem dúvida, você iria adorar a nossa feijoada!"

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fotos by google

2 comentários:

  1. Ana, será que seu eu comer como ele, foi escrever bons poemas? rsrsrsr. Acho que não, mas a Lu e eu apreciamos muito caldo verde e sopas, aquelas mesmas de restôdontê, misturado a feijão e restolhos do almoço, fica novinha e gostosa. Uhhhhh. Esquenta e fortalece à noite.

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  2. Camilo: estou surpresa com a qualidade do seu livro "O Seminário" fico me policiando para não ir ao fim e saber as respostas para os acontecimentos que envolvem a morte de Olderick. Nossa! Muito bom, mesmo! Quero descobrit junto a Teófilo (interessante este nome de personagem envoca as cartas de Paulo ao seu discípulo, fica um clima biblico que tem tudo a ver com o enredo que se passa no seminário)em que local está o diário de Adelmo, já li até a metade e voltei para ficar mais a par dos personagens e enredo. Muito bom, parabéns, Caríssimo Escritor um livro de suspense, e inteligente. Gostei muito da parte do Index em que você nomeia os "apatridos" da igreja (cientistas, pensadores, escritores). Uau! estou boquiaberta.
    Abraços em clima de suspense desta sua leitora CaipiracicabANA Marly de OLiveira Jacobino. Obrigada pela visita e olha você já está alcançando Agatha Christie, mais um pouquinho de caldo verde e "pareia" com Fernando!

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