terça-feira, 5 de abril de 2011

O poeta do mau gosto!? Ele foi genial... Agend@

Augusto dos Anjos visualizava o mundo da sua época com a emoção de um poeta, mas com a racionalidade de um cientista. Vai além de ser o poeta do escarro, da vulgaridade em que o apelidaram os "críticos" da sua época. Poeta que foi reconhecido pelo povo por compreender e escrever as agruras do ser humano em tempos paradoxais de esperanças e desesperanças! A benção Augusto dos Anjos!"
                                                  Ana Marly de Oliveira Jacobino
           Augusto Carvalho Rodrigues dos Anjos nasceu no engenho Paud'Arco, Vila do Espírito Santo, Paraíba, em 20 de abril de 1884. De uma família de proprietários de engenhos, assistiu, nos primeiros anos do século XX, à decadência da antiga estrutura latifundiária, substituída pelas grandes usinas. Foi educado nas primeiras letras pelo pai e estudou no Liceu Paraibano, onde viria a ser professor em 1908. Precoce poeta brasileiro, compôs os primeiros versos aos sete anos de idade.
          Em 1903, ingressou no curso de Direito na Faculdade de Direito do Recife, bacharelando-se em 1907. Em 1910 casa-se com Ester Fialho. Seu contato com a leitura, influenciaria muito na construção de sua dialética poética e visão de mundo.
          Augusto foi admirador e leitor de Herbert Spencer, que por sua vez,  foi um profundo estudioso da obra de Charles Darwin. É dele a expressão "sobrevivência do mais apto", e em sua obra procurou aplicar as leis da evolução a todos os níveis da atividade humana.
Augusto dos Anjos estudou com afinco:  Ernst Haeckel, teria absorvido o conceito da monera como princípio da vida, e de que a morte e a vida são um puro fato químico. Já, Arthur Schopenhauer o teria inspirado e motivado a ver que o aniquilamento da vontade própria seria a única saída para o ser humano. E da Bíblia Sagrada base da sua essência espiritualística, Augusto a usou para contrapor, de forma poéticamente agressiva, os pensamentos remanescentes, em principal os ideais iluministas/materialistas que, eram endeusados por muitos da sua época.
         Com a leitura de uma filosofia, fora do contexto europeu em que nascera Augusto dos Anjos presencia a demonstração da realidade que via ao seu redor, com a crise de um modo de produção pré-materialista, proprietários falindo e ex-escravos na miséria. O mundo seria representado por ele, então, como repleto dessa tragédia, cada ser vivenciando-a no nascimento e na morte
             1881 Beco da Misericórdia em Jóao Pessoa do Arquivo: Museu Walfredo Rodriguez

No  soneto "Psicologia de um vencido", temos a visão de mundo em que a morte pelas guerras e as grandes invenções da modernidade fornece as imagens e palavras antipoéticas, e um mostra um  auto-retrato, mais semelhante a uma caricatura, rompendo com os limites estéticos do belo e do feio, numa postura típica dos melhores expressionistas:
                                           O Deus-Verme (Augusto dos Anjos)
"Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,

Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.


Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.


Já o verme - este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,


Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!"
Busto de Augusto dos Anjos em praça de Jóao Pessoa
         Muda-se para o Rio de Janeiro e passa a dedicar-se ao magistério, lecionando no Colégio Pedro II. Em 191 1 morre prematuramente seu primeiro filho. No ano seguinte, publica Eu, seu único volume de poesias.

         Em 1914, transfere-se para Leopoldina, Minas Gerais, para assumir a direção de um grupo escolar. Morre, após dez dias de fortíssima gripe, em 12 de novembro de 1914.
         Augusto dos Anjos é um poeta único em nossa literatura. Sua obra é a soma de todas as tendências (ou de todos os ismos, como se costuma dizer) da segunda metade do século XIX e do início do século XX. Curiosamente, sua obra apresenta traços do Expressionismo alemão sem que, no entanto, ele tenha conhecido a teoria dessa tendência de vanguarda.
                 Praia em Jõao Pessoa
A poética "EU" do maior poeta paraibano do século XX, Augusto dos Anjos, é o seu grito de alerta para salvar a humanidade em que procura  vencer a morte da estética e mostrar para todos a civilização brasileira que deixará o mundo perplexo pela sua magnitude.

VASCONCELOS, Montgomery José de. A poética carnavalizada de Augusto dos Anjos. 1ª ed., São Paulo, Annablume, Selo Universidade 28, 1996.
ANJOS, Augusto dos [1884-1914]. EU. 1ª ed., custeada pelo poeta e seu irmão Odilon dos Anjos, Rio de Janeiro [s.c.p.] 1914.
NÓBREGA, Humberto. Augusto dos Anjos e sua época. João Pessoa, Edição da Universidade da Paraíba, 1962.
ANJOS, Augusto dos [1884-1914]. EU. 1ª ed., revista e custeada pelo poeta ainda em vida com ajuda de seu irmão Odilon dos Anjos, Rio de Janeiro: [s.c.p.] 1912. Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996.
BARROS, Eudes. A poesia de Augusto dos Anjos: uma análise de psicologia e estilo. Rio de Janeiro: Ouvidor, 1974.
ERICKSON, Sandra S. F. A melancolia da criatividade na poesia de Augusto dos Anjos. João Pessoa: Editora Universitária, 2003.
              Sétimo Ano do Sarau Literário Piracicabano
                       Tema:Sarau Bem Brasileiro
Um espaço alegre repleto de sentimento através da música e da poesia.

Dia 12 de abril (Terça-feira) das 19:30h às 21:30hs
Local
Teatro Municipal Drº Losso Neto
Aberto a todos que queiram participar
Entrada Franca (retirar na bilheteria do Teatro Municipal.
foto by Paulo Pecorari A historiadora Marly Therezinha Germano Perecin e Gilberto Freyre serão os homenageados do Mês de Abril
Gilberto Freyre

“Um livro que vai além, ao cunho de "Memorialista". Um livro que vai além ao de garimpar a memória de uma “Educadora”.
"Eu, Educadora" de Leda Coletti é um instrumento de conhecimento para cada um sem discriminação, pois mesmo não estando literalmente em sala de aula é necessário interagir com a “educação” no cotidiano!”
                  Ana Marly de Oliveira Jacobino
               Coordenadora do Sarau Literário Piracicabano
                                                                                     fotos by google

4 comentários:

  1. Pois é, minha querida Ana. Mais um poeta que, na flor da idade e da criatividade, parte prematuramente. E quantos tiveram o mesmo fim. Quem sabe esse Brasil fosse diferente nos dias de hoje, se lá atrás, esses grandes poetas e estudiosos tivessem tido mais tempo para externar o que pensavam!

    Augusto foi repudiado por alguns, ou muitos, pelo fato de se contrapor ao que via e sentia, ou seja, ao domínio dos barões e a opressão que eles mantinham em nome de uma oligarquia que já dava mostras de falência.

    A aristocracia já era capenga, e quando via um de seu meio se bandear para o outro lado, logo tratava de execrá-lo. Mas Augusto nunca se intimidou, pelo contrário, tornou seus versos ainda mais acesos e fortes.

    E você, como sempre, dando uma aula de cultura.

    Excelente.

    Meus aplausos, Aninha.

    Marcio

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  2. Augusto dos Anjos viveu 30 anos, mas leu e estudou muito e portanto deste modo pode adquir o conhecimento dos pensadores da época e pode ver a situação em que vivia a grande maioria dos brasileiros, explorados por uma elite que não queria em hipótese alguma pensar em mudanças.
    Sei que uma resenha não mostra nem sequer o mínimo da sua trajetória, mas é uma forma de não esquecer do seu nome e de todos que fizeram e fazem a sociedade como um todo se tornar melhor.
    Obrigada , afilhado pelo seu comentário que leio com alegria, pois é uma forma de valorizar o nosso trabalho feito muitas vezes nos intervalos de nosso tempo (havia escrito antes, mas não sei o que houve perdi tudo). Abraço poético desta CaipiracicabANA Marly de Oliveira Jacobino

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  3. Olá Ana, fiquei deslumbrada com esse texto.
    Realmente se lembram dele mas por aquele poema do escarro, outro dia mesmo foi citado na minha sala de aula, o nome deste poeta e este poema.

    Mas gostei muito de vir e te ler.
    Obrigada pela visita.
    Um beijo querida.

    Fernanda

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  4. Ana, madrinha.

    Hoje, venho como representante do Arena das Crônicas, e te trago um convite.

    Acabei de lançar uma coluna, na qual dediquei quase que toda a semana para prepará-la, onde entrevisto blogueiros como nós. E como você é madrinha do Arena, nada melhor do que ter sua opinião e crítica por lá.

    A pessoa entrevistada? A Fernanda, essa mocinha fantástica, e que também já virou tua fã.

    A postagem acima... essa, já tive o prazer de comentar como o Marcio JR, mas reafirmo, foi uma aula.

    Bjs, madrinha. Te espero lá no Arena.

    Marcio

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