segunda-feira, 28 de março de 2011

O Ser Caipira: um mundo rico em arte, linguagem e muito mais...Agend@!

"Vergonha do meu sotaque caipira? Jamais! Nunca tive em nenhum momento da vida, e, primo por honrá-lo onde eu estiver. A riqueza cultural que encontro no"Ser Caipira" é o meu maior orgulho. Engrandece a minha vida todo este mundo repleto de encantadoras vivências! Sou caipira e não nego!" Ana Marly de Oliveira Jacobino
Caipira picando fumo de 1893 de Almeida Júnior
 Caipira é uma denominação tipicamente do estado de São Paulo. Nascida da primeira miscigenação entre o branco e o índio. "Kaai 'pira" na língua indígena significa, o que vive afastado, ("Kaa"-mato ) ("Pir" corta mata ) e ("pira"- peixe). Também, o cateretê, no início que era uma dança religiosa indígena, em que os Índios batiam palmas, seguindo o ritmo da batida dos pés, deu origem a "catira". A catira passou a ser um costume de caboclos, que muito antes eram chamados de "cabolocos".
Rio de Piracicaba ao fundo o Engenho Central (foto by Ivana Marisa Altafin)
Tarde Cabloca (Ana Marly de Oliveira Jacobino)
Do lado de fora da casa amarelada
Um jardim verdejante parece me sorrir.
 Dentuças alongadas, as bocas de leão
Exploram brincalhonas, o espaço
Marcando-o na dança frenética das cores.
Brinco com as margaridas
Explorando cada uma das suas pétalas
Num incansável bem-me-quer.
As ruelas entre os canteiros
Colorem os pés de terra roxa.
Tal quais, os dedinhos do anjinho
Da Beatriz todo enfeitado com a roupa
Dominical no seu caixão de madeira branco.
Domingo, que ele não viu e nem vai ver.
No interior saboroso da cozinha
A lenha cantarola em um estalar
Canônico, na vermelhidão luminosa do fogo,
Final de tarde,
O som da viola de Nho Lau germina notas
Enquanto, ele sentado no batente da porta
Solta um suspiro longo de apaixonado.
E o sabor doce do café, depois de moído,
Entre os batuques do monjolo do velho Caetano
Jogado pra la e pra ca pelo vento faz cócegas
Nas lombrigas dos trabalhadores no eito.
Porem, à tarde, cansada de ruminar beleza,
Silencia e insepulta a vida, varre as horas
E o pontilhar das estrelas roçam o céu
Enquanto, o dia adormece
No interior caipira.
Mazinho Quevedo gosta de inovar. Músico virtuoso, e capaz de tirar das cordas de sua viola os mais variados estilos, ele apostou na mistura da música de raiz com acordes clássicos. Convidou o maestro Carlos Lima, que comanda a Orquestra Lyra Mogimiriana, para a nova empreitada e decidiu levar aos palcos paulistas uma série de concertos musicais.
        A idéia de Mazinho Quevedo de unir a viola ao violino, ao violoncelo e a outros instrumentos clássicos de uma sinfônica, vai além da simples apresentação de um som erudito-popular. Mazinho pensou em montar esse show com a intenção de popularizar a música instrumental de qualidade e torná-la acessível, principalmente ao público jovem. “A orquestra é formada por maioria de músicos jovens. Quando pensei nesse projeto, imaginei que ele poderia despertar o interesse dos adolescentes para a música instrumental, além, é claro, de manter viva a arte caipira por meio da música”, comenta.
        Esta não é a primeira vez que Mazinho se apresenta com uma orquestra. Ele, aliás, é o pioneiro dessa mistura musical. Anos atrás, o músico, considerado um dos melhores violeiros do Brasil, tocou com a Orquestra Sinfônica de Piracicaba. Em uma parceria inédita, o violeiro de música de raiz uniu seu estilo caipira à sofisticação da música clássica. O resultado agradou tanto Mazinho, e o público, que o músico decidiu amadurecer a ideia. Pensou na possibilidade de viabilizar um projeto mais amplo e uniu-se, então, à Orquestra Lyra Mogimiriana. (Carla Cardoso)

      Escute e se emocione com a viola de Mazinho Quevedo junto a Orquestra Lyra Mogimiriana:
                    http://www.youtube.com/watch?v=WfZz9RiwJcY
         Mazinho Quevedo declarou por várias vezes o seu amor por Piracicaba, cidade que o abraçou quando veio aqui estudar na Unicamp- Odontologia.
         Mazinho Quevedo buscou em suas lembranças passagens que teve aqui na Noiva da Colina, em uma delas ele se lembrou do meu tio: Aristides Orsini (Tide), a quem qualificou de grande "entendedor de passarinhos" e que lhe dava carona.
        "Seu Aristides era muito pontual e por isso perdi a carona várias vezes"!
A simpatia de Mazinho Quevedo recebendo o seu público cativo. "Fui lhe dizer que o Aristides Orsini (falecido em 1996) era o meu tio."
                                      O falar do caipira piracicabano:
Óia: Olhar algo , veja , preste atenção. (Ex.: Óia só que coisa !)
Úia: Olhar coisa ou pessoa interessante , chamar atenção para algo especial . (Ex.: Úia que belezura !)
Deusolivre: Termo utilizado largamente um todo tipo de conversa , expressa afirmação negativa categórica. (Ex.: Deusolivre que eu vou no cemitério a noite !)
Gorfá:- Vomitar . (Ex.: Acho que bebi demais , vou Gorfá !)
Bocó: Pessoa lerda, bobo. (Ex: Cê é um bocó, todo mundo se aproveita do cê).
Mocorongo: A mesma coisa que bocó.
Quaiá o Bico: Dar muita risada . (Ex.: O pião tomou um Capote e eu Quaiei o bico !)
Disgracêra: Quando tudo/algo dá errado. (Ex: Aconteceu uma disgracêra comigo ontem, atropelei a fia dum traficante).
Vô chegando: Ao contrario do que parece é utilizado quando você vai embora , esta saindo (Ex.: Bom pessoal a festa tá boa , mas Vô chegando !! )
Reganhera: Estado letárgico que geralmente ocorre logo após o almoço , moleza , soneira.(Ex.: Comi tres pratos de feijoada e me deu uma Reganhera daquelas !!!)
Furdunço: Confusão , normalmente relacionada a festas (Ex.: Tava lá na festa e de repente começou uma briga...foi o maior Furdunço !)
Isgueio: Palavra utilizada para identificar uma ação que não ficou aprumada em linha reta. (Ex.: Ela foi estacionar o carro e ficou de isgueio .)
Fianco: A mesma coisa que Isgueio .
Bissurdo :- Absurdo , inaceitável , incrível . (Ex.: Essa coisa de seqüestro é um bissurdo !)
Fiótão :- Pessoa menos preparada , sem experiência , meio bobo . (Ex.: Olha lá a besteira que ele fez !Só podia ser Fiótão mesmo . )
Trupicar:- É o mesmo que tropeçar. (Ex.: Carlos trupicou e caiu de cara no chão!...)
Frutinha : Rapaz delicado que não demonstra sua masculinidade (Ex.: Olha só ! Andando desse jeito só pode ser Frutinha !)
Euem:- Não vai fazer , participar ou falar algo . (Ex.: Você foi no velório ontem ! - Euem tá loco)
Forfé :- Bagunça , agitação . (Ex.: Fui no baile e tava o maior Forfé!) (...)


Cornélio Pires, nascido em Tietê, São Paulo, em 1884, foi escritor, compositor, conferencista, jornalista, contador de causos, folclorista e poeta.
     Porém, a importância maior deste tieteense, foi à dedicação de uma vida inteira à compilação e à divulgação da cultura sertaneja, através de livros, discos, filmes, conferências, artigos de jornais e composições musicais. Já existia evidentemente esta cultura, mas foi ele que, com o seu inestimável trabalho possibilitou que a música caipira fosse divulgada, inicialmente em discos, com selo próprio, e depois através das rádios AM de São Paulo.
      Há muitos anos, iniciei a colheita de versos rústicos “inventados pelos nossos caipiras, como o que já declamei para vocês. Inventavam para os seus fandangos, “funções”, cateretês, sambas, canas verdes e cururus. Há, por todo o país, muita gente analfabeta, mas de notável inteligência.
      O caipira paulista difere, contudo, dos outros patrícios devido à difusão do ensino por todo o Estado e por haverem os antigos dirigentes de São Paulo compreendido que a nossa grandeza só poderia vir com imigração, transporte e educação.
       Fenômeno interessante se verifica no interior de São Paulo, estrangeiros de velhas raças, ao invés de influírem sobre os paulistas _de uma nacionalidade apenas em formação, como todos brasileiros _ são por estes influenciados, adquirindo-lhes os costumes, o feitio, o sotaque e até seus cantos e danças.
                             Rio de Piracicaba (fotos by Ivana Marisa Altafin)
Quando lançou !"Musa Caipira", Cornélio Pires enviou um exemplar ao notável crítico literário Sylvio Romero, que assim se manifestou através de carta:

" Apreciei imensamente o chiste, a cor local, a graça, a espontaneidade das saus produções , que além do seu valor intrinseco são um ótimo estudo para o !brasileirismo" da nossa linguagem...! "
(Recanto Caipira - 2010-100 anos de "Musa Caipira" : O primeiro livro de Cornélio Pires por Israel Lopes (Escritor Gaúcho)
“Eu que vivi aqui em Piracicaba e trabalhei como rábula no fórum da cidade, então, gostaria de pedir licença a todos para declamar uma poesia que fiz com entusiasmo para homenagear o cabloco que aprendi a amar e a respeitar:
                           Ideal caboclo: Cornélio Pires
Ai, seu moço, eu só quiria
P’ra minha filicidade
Um bão fandango por dia,
E um pala de qualidade.
Porva espingarda e cutia
Um facão fala verdade,
E u’a viola de harmonia
P’ra chorá minha sodade.
Um rancho na bêra d’água
Vara de anzó, pôca mángua,
Pinga boa e bão café...
Fumo forte de sobejo,
P’ra compretá meu desejo,
Cavalo bão – e muié...
                                             Convites:
                                                      Sarau Bem Brasileiro
Sétimo Ano do Sarau Literário Piracicabano as homenagens serão para:

 Gilberto Freyre
              E
             A historiadora Marly Therezinha Germano Perecin
Dia 12 de abril das 19:30h às 21:30hs
Encontro de artistas,declamadores, escritores, poetas, músicos no Teatro Municipal Drº Losso Netto em Piracicaba, com a presença do Regional do Sarau Literário Piracicabano, e GRUPO Musical- CHORANDO EM 7 (COORDENAÇÃO - Maestro MARCOS DE MORAES
     Local: Teatro Municipal Drº Losso Neto
        Aberto a todos que queiram participar
          Entrada Franca (retirar na bilheteria do Teatro Municipal.

fotos by google

5 comentários:

  1. Aninha, minha querida.

    Não sei como classifico esta postagem que acabei de ler. Se uma aula de história, se uma lição de brasilidade, ou uma linda declaração de amor pelo nosso maravilhoso e precioso interior.

    Nada pior do que aquele que nega suas raízes. Essa pessoa fica sem norte, fica sem essência.

    Somos brasileiros, e graças a Deus, existem as variações de língua, de cultura, de jeitos e trejeitos. E o caipira, posso afirmar, é um dos maiores colaboradores para a formação de nosso tão rico acervo cultural.

    Imagine o Brasil sem o Monteiro Lobato, por exemplo!!!!! Imagine o Brasil sem a música caipira (a legítima, e não essas coisas esquisitas que andam cantando por aí), imagine o Brasil sem a culinária caipira, sem a cortesia e hospitalidade caipira. Acho que, sem isso tudo, faltaria um pedaço grande do nosso belo país.

    Sinto saudades do tempo em que morei em Campinas/SP, e fazia meus passeios por Sorocaba, Taubaté, Ribeirão Preto e, inclusive, Piracicaba.

    Minha querida amiga, faço minhas reverências a você. Como sempre, uma mestra na arte de amar esse nosso país.

    Fantástico.

    Bjs, Aninha.

    Marcio

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  2. Ana,

    Minha amiga, a autenticidade faz o valor das pessoas, somos caipiracicabanas com muito orgulho! Minha filha diz que meu sotaque caipira está cada vez mais acentuado, rssss

    Pamonhas, pamonhas, pamonhas, pamonhas de Piracicaba!!!

    Ana, ocê é uma muié muito curta, seu brog tá cada veiz mió da conta, rssss


    Beijos, minha amiga!

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  3. Vigê inté derramei lágrima i us meus zóio tão vremeio de tantu chorá feito a tar da Maria Madalena nus pé de Nosso Sinhô, eita, oceis tem um palavrório tão abestado de bunitu, qui faiz apertá o peito desta caipiracicabana. Gardecido Márcio e gardecida a cumadre Ivana, oceis sabem bem mostrá o quanto é mió di bão os amigu. Bem! Dexe eu i em frente que atrais vem gente.

    Ana Marly de Oliveira Jacobino aqui no interior em Pricicaba!

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  4. Recebi da Roseane Lupi e aqui publico:
    Minha amiga.... achei ótimos, seu texto e a matéria sobre o caipira... tirei material pra minhas pesquisas sobre o PIRACICABANO. Adorei a poesia de Cornelio Pires!


    Parabéns!! Rose

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  5. Anônimo7/4/11 08:40

    Não me importo de ser chamada de caipira, apesar de nunca ter vivido na zona rural. O que não suporto mesmo é encontrar tanta gente falando errado e achando graça. Como profa ,passei a vida toda ensinando falar e escrever certo. E orgulho-me dos que aprenderam...

    Dirce Ramos de Lima

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