quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Para Francisca Júlia da Silva Münster

"Oh! , Francisca Júlia dos sonetos admiráveis... longe do rubor cênico das reuniões versejadas pelos Poetas, homens! Longe da erudição marcada pelos ternos, bengalas, chapéus na doce Confeitaria Colombo, em que, leva nas suas paredes, o amargor da discriminação... Francisca Júlia, tal qual, a Julieta de Shakespeare...morre de amor! Richard Mathenhauer o seu poema faz mérito ... embeleza com suas palavras, a minha...a nossa Francisca Júlia da Silva Münster... obrigada!" Ana Marly de Oliveira Jacobino


A UM VELHO _ Francisca Júlia 
(Morte‎: ‎1 de novembro de 1920 (49 anos); São Paulo
Nascimento‎: ‎31 de agosto de 1871; ‎Xiririca)

Por suas próprias mãos armado cavalheiro,
Na cruzada em que entrou, com fé e mão segura,
Fez um cerco tenaz ao redor do Dinheiro,
E o colheu, a cuidar que colhia a Ventura.

Moço, no seu viver errante e aventureiro,
O peito abroquelou dentro de uma armadura;
Velho, a paz vê chegar do dia derradeiro
Entre a abundância do ouro e o tédio da fartura.

No amor, de que é rodeado, adivinha e presente
O interesse que o move, o anima e o faz ardente;
Foge por isso ao mundo e busca a solidão.

O passado feliz o presente lhe invade,
E vive de gozar a pungente saudade

Das noites sem abrigo e dos dias sem pão.
"Os círios queimavam
Misturando-se ao odor das flores.
No centro da sala, o esquife,
E nele, Filadelfo.
A viúva em sua mortalha negra
Trazendo o rosto no véu
Da perda irreparável
Depôs a mão metida em luva enlutada
Sobre a mão despida e fria e imóvel
Do amado de tanto anos.
Deitou a cabeça no peito silencioso
E chorou;
Algumas lágrimas fugiram do véu
E caíram desesperadas sobre o terno negro,
Vestimenta da última grande viagem.

No quarto ermo de amores passados
Fica ela a rememorar o companheiro
Pranteado.
Abre a gaveta da escrivaninha:
Lá cinco frascos fatais.
Olhou pela vidraça
E lembrou-se que no dia seguinte
Seria Finados.
Para sempre finados.
À hora da despedida,
Pálida Poetisa em véu negro:
Nenhuma palavra. Lágrima alguma.
Somente um estremecimento
E um corpo que sobre o outro cai.
Morta!
Morta, sabia ela ser a existência
Quando a razão de uma vida jaz num ataúde."

(Richard Mathenhauer, "Francisca")
Richard Mathenhauer é Escritor e Poeta 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário