terça-feira, 20 de janeiro de 2015

O Rio de Janeiro de Anibal Machado

 “O mar com que eu sonhava tanto, que me enchia a imaginação, estava ali perto, ao alcance da mão. Saber que, abrindo a janela, iria encontrar a sua imagem poderosa, a aragem salina, oh! só isto valia tudo para o filho da montanha”. Anibal Machado




Naqueles tempos em que Ipanema era uma quase província, a praia uma imensa faixa de areia, iluminada à noite por postes americanos, os prédios baixinhos, o trânsito de poucos carros e toda a gente andava sem medos, a casa de número 487 na Visconde Pirajá, com suas janelas verdes e suas portas abertas, era ponto de encontro marcado dos mais diversos artistas.
 
Seu proprietário era o escritor Aníbal Machado, seis filhas, 13 livros e centenas de amigos, um homem de rara humanidade e autor das mais belas e poéticas páginas da literatura nacional. É lembrado até hoje por sua capacidade criativa e de agregar e manter à sua volta todos os talentos possíveis que marcaram e surgiram naquela época. Foi essa Ipanema mágica que acolhia as famosas “domingueiras do Aníbal”, em que todos eram bem vindos e discutia-se Freud e Kafka com a mesma energia com que se dançava foxtrote  e boogie woogie.
 
 Foi na mineira Sabará que Aníbal nasceu, dia 9 de dezembro de 1894. Cidade banhada pelo Rio das Velhas, de águas que acompanharam as memórias do escritor, e de onde ele se mudou para Belo Horizonte, aos 11 anos.  Veio concluir o curso no Rio de Janeiro. Na década de 1930, funda com Apparício Torelly (o barão de Itararé) o periódico O Jornal do Povo, de vida curta. Colabora ainda com revistas e suplementos literários de importantes jornais como O Correio da Manhã e Diário do Povo. Em 1941, é publicada uma de suas palestras, proferida nesse ano, com o título O Cinema e Sua Influência na Vida Moderna. No mesmo ano, é responsável pela organização da divisão de arte moderna do Salão Nacional de Belas Artes (SNBA). Lança, três anos depois, seu primeiro livro de contos, Vila Feliz, e é eleito presidente da Associação Brasileira de Escritores. Organiza, em 1945, o 1º Congresso Brasileiro de Escritores, em São Paulo, no qual diversos autores elaboram a Declaração de Princípios contra a ditadura de Getúlio Vargas (1882 - 1954). Em seus últimos anos de vida, traduz e adapta, para O Tablado, grupo teatral amador que ajuda a fundar com sua filha, a dramaturga Maria Clara Machado (1921 - 2001), textos e peças de importantes escritores, como do tcheco Franz Kafka (1883 - 1924), do francês George Bernanos (1888 - 1948), e do russo Anton Tchekhov (1860 - 1904).
 
Na década de 1960, seus contos A morte da porta estandarte, Tati, a garota, O iniciado do vento (O Menino e o Vento,1967) e Viagem aos seios de Duília ganharam versões para o cinema, com colaboração do próprio Aníbal nos roteiros. Manoel Carlos adaptou vários contos de sua obra na telenovela Felicidade, exibida pela Rede Globo em 1991.
Teve seis filhas; entre elas, a escritora e teatróloga Maria Clara Machado, cultuadora e guardiã de sua obra.
Faleceu em  20 de janeiro de 1964 (69 anos) Rio de Janeiro 

TEIXEIRA, Marcos Vinícius. Aníbal Machado: um escritor em preparativos. 2012. 313 f. Tese (Doutorado) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, São Paulo.
 

2 comentários:

  1. Ana Marly, estou fascinada com este Rio de Janeiro de Aníbal Machado. Eu adoro Aníbal Machado, foi um dos escritores mais humano e amigo do seu amigo que eu já li. O seu conto Viagem aos Seios de Duília, foi dos primeiros que li. Adorei este seu texto, maravilhoso.
    Beijinhos de Luz!
    Ana Maria

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  2. Querida amiga

    A vida se alimenta de histórias.
    O que conhecemos também amamos.
    Talvez a falta de conhecimento
    sobre as pessoas e os lugares,
    tire da sociedade o seu respeito
    pelo lugar onde vive,
    e reflita toda forma de desamor
    dos dias atuais.

    Que ainda haja estrelas em seu coração,
    é o que deseja minha vida para a tua.

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