domingo, 9 de janeiro de 2011

O maior dos malditos é....Conheça-o aqui na Agend@!

                                      Ciclo dos Poetas Malditos 2ª Parte
"Deixo a vida como deixo o tédio"
              Álvares de Azevedo: O Maldito que brilhou nas palavras abençoando a Poesia Brasileira  (Ana Marly de Oliveira Jacobino
 Manuel Antônio Álvares de Azevedo nasceu em São Paulo, 12 de setembro de 1831 e faleceu no Rio de Janeiro, 25 de abril de 1852, com 21 anos incompletos.  Ele é reconhecido como um escritor da segunda geração romântica (Ultra-Romântica, Byroniana ou Mal-do-século). O jovem Álvares foi contista, dramaturgo, poeta e ensaísta brasileiro, autor de tantas obras entre elas: Noite na Taverna.
 Álvares era filho de Inácio de Loyola Álvares de Azevedo e Maria Luísa Mota Azevedo, sua  infância foi no Rio de Janeiro, onde iniciou seus estudos. Veio a São Paulo (1847) para estudar na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, ganhou fama por suas geniais produções literárias. Mas, o seu maior destaque foi a grande facilidade na aprendizagem de  línguas e por ser jovial e muito romãntico (sentimental).
Enquanto fazia o curso de Direito Alvares de azevedo fez a tradução de : O quinto ato de Otelo, de Shakespeare; também de  Parisina, de Lord Byron; organizou e foi o fundador da revista da Sociedade Ensaio Filosófico Paulistano (1849); participou brilhantemente  da Sociedade Epicureia; e começou a trabalhar um  poema épico: O Conde Lopo, do qual, infelizmente, restaram fragmentos.
Não finalizou o curso, pois começou a sofrer de uma tuberculose pulmonar nas férias de 1851a 1852, a qual foi apiorando graças a um tumor na fossa ilíaca, que veio a acontecer devido a uma queda de cavalo, falecendo aos 20 anos.
*** Uma obra de fazer inveja a poetas do mundo todo, considero Álvares de Azevedo um dos grandes poetas denominado "Malditos" (pelos estudiosos da Literatura) por incorporar a realidade nua e crua na poesia, sem deixar de ser romântico. Fala da morte como uma velha companheira e amiga que o acompanha, sempre! (Ana Marly)

                          São Paulo do século XIX (fotos by Google)
"Invejo as flores que murchando morrem, E as aves que desmaiam-se cantando. E expiram sem sofrer..."         Álvares de Azevedo
                                             Poemas Malditos I -Álvares de Azevedo

De tanta inspiração e tanta vida
Que os nervos convulsivos inflamava
E ardia sem conforto...
O que resta? uma sombra esvaecida,
Um triste que sem mãe agonizava...
Resta um poeta morto!


Morrer! e resvalar na sepultura.
Frias na fronte as ilusões-no peito
Quebrado o coração!
Nem saudades levar da vida impura
Onde arquejou de fome... sem um leito!
Em treva e solidão!


Tu foste como o sol; tu parecias
Ter na aurora da vida a eternidade
Na larga fronte escrita...
Porém não voltarás como surgias!
Apagou-se teu sol da mocidade
Numa treva maldita!


Tua estrela mentiu. E do fadário
De tua vida a página primeira
Na tumba se rasgou...
Pobre gênio de Deus, nem um sudário!
Nem túmulo nem cruz! como a caveira
Que um lobo devorou!...
 São Paulo do século XIX, onde morou Álvares de azevedo (fotos Google)
                               Soneto (Álvares de Azevedo)

Pálida, à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!


Era a virgem do mar! Na escuma fria
Pela maré das águas embalada...
- Era um anjo entre nuvens d'alvorada,
Que em sonhos se banhava e se esquecia!


Era mais bela! o seio palpitando...
Negros olhos, as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...


Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti - as noites eu velei chorando,
Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo!
                SE EU MORRESSE AMANHÃ_ Álvares de Azevedo
Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!

Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que amanhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!


Que sol! que céu azul! que doce n'alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!


Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o doloroso afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!

                                             Poemas Malditos VI _ Álvares de Azevedo

No outro dia, na borda do caminho
Deitado ao pé de um fosso aberto apenas,
Viu-se um mancebo loiro que morria...
Semblante feminil, e formas débeis,
Mas nos palores da espaçosa fronte
Uma sombria dor cavara sulcos.
Corria sobre os lábios alvacentos
Uma leve umidez, um ló d'escuma,
E seus dentes a raiva constringira...
Tinha os punhos cerrados... Sobre o peito
Acharam letras de uma língua estranha...
E um vidro sem licor... fora veneno!...

Ninguém o conheceu; mas conta o povo
Que, ao lançá-lo no túmulo, o coveiro
Quis roubar-lhe o gibão - despiu o moço...
E viu... talvez é falso... níveos seios...
Um corpo de mulher de formas puras...

Na tumba dormem os mistérios de ambos;
Da morte o negro véu não há erguê-lo!
Romance obscuro de paixões ignotas


Poema d'esperança e desventura,
Quando a aurora mais bela os encantava,
Talvez rompeu-se no sepulcro deles!
Não pode o bardo revelar segredos
Que levaram ao céu as ternas sombras;
Desfolha apenas nessas frontes puras
Da extrema inspiração as flores murchas...

                   Seio de Virgem _Álvares de Azevedo

0 que eu sonho noite e dia,
O que me dá poesia
E me torna a vida bela,
O que num brando roçar
Faz meu peito se agitar,
E o teu seio, donzela!


Oh! quem pintara o cetim
Desses limões de marfim,
Os leves cerúleos veios
Na brancura deslumbrante
E o tremido de teus seios?


Ouando os vejo, de paixão
Sinto pruridos na mão
De os apalpar e conter...
Sorriste do meu desejo?
Loucura! bastava um beijo
Para neles se morrer.

MINHAS CONSIDERAÇÕES FINAIS:

 Ao ler e reler Álvares de Azevedo sinto que a sua vida completou o ciclo poético, mesmo vivendo apenas 21 anos (incompletos) e portanto, não se tornando um homem amadurecido, tanto na vida biológica como na vida amorosa, mesmo assim, Álvares deixou obras que espõe a Literatura Brasileira na sua época, como uma das maiores do mundo.
Álvares mesmo escrevendo sobre a terrível e cruel realidade do seu tempo náo se deixa contaminar pelo "negror" e continua um romântico incorrígivel.
21 anos anos incompletos de uma vivência perturbadora pela genialidade deste marcante "Poeta Brasileiro", a quem louvo dia após dia pela existência humana e poética.
E copiando  outro grande poeta "Vínicius de Moraes" digo:
                " Manuel Antônio Álvares de Azevedo ´; SARAVÁ!"
Sarau Literário Piracicabano, onde tudo acontece!

RAMOS, P.E.S.(Org.). Poesias Completas de Álvares de Azevedo. Ed. Unicamp, 2002.
BUENO, A. (Org.). Obra Completa de Álvares de Azevedo. Nova Aguilar, 2000
Biografia no sítio oficial da Academia Brasileira de Letras
A cidade de São Paulo no século XIX: o olhar de Álvares de Azevedo.

7 comentários:

  1. Anônimo9/1/11 18:02

    Que trabalho belíssimo que vc fez, amiga! Encantador. As fotos então deram todo charme para o complemento teórico! Parabéns. Beijos, Carla Giffoni

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  2. Concordo com a Carla. Um trabalho fantástico, Ana.

    Agora, fico pensando nos poetas e nos artistas de um modo geral do século XIX. Por mais que você tenha dito que o Alvares de Azevedo não tenha completado o cliclo de amadurecimento por ter morrido muito jovem, penso que todos eles tinham uma juventude muito acelerada, e que, aos 21 anos de idade, eles já tinham um amadurecimento muito grande.

    Dava a impressão de que "queriam abraçar o mundo com as pernas", tamanha era a carga criativa a que se propunham. Imagine esses gênios nos dias de hoje? rsrs.

    Bjs, minha querida Poetisa.

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  3. Que alegria ao receber os comentários de grandes escritores como vocês, Caríssimos Amigos Márcio e Carla, de fato os escritores e poetas do século XIX viveram intensamente (a grande maioria deles morreram tão prematuramente). Agradeço a visita e a gentileza. Obrigada!Ana Marly de Oliveira Jacobino

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  4. Incrível ver que ele em apenas 21 anos fez tanto... Obrigado pela interação, já está lá! beijos e iniciaste 2011 com tudo por aqui!chica

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  5. Querida amiga

    Durante muitos anos
    Álvares de Azevedo acompanhou minhas leituras.
    Ao lado de Fagundes Varela
    e Castro Alves,
    era para mim leitura indispensável.
    Poesia no seu sentido pleno.

    Que haja sempre tempo para os sonhos
    em tua vida.

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  6. Caríssimos Aluísio e Chica: feliz ao ver os comentários deixados por aqui expressando tanta gentileza!Obrigada

    Ana Marly de Oliveira Jacobino

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  7. Olá Ana!

    Preciso falar com você, amiga, não encontrei email aqui na sua página, por favor, entre em contato e eu lhe explicarei:

    true.esther@hotmail.com


    P.S. Não sei se lembrará de mim, participei um pouco de tempo no RL como Hadassa Mar, gostava de visitar sua escrivaninha.

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