quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Charles Baudelaire: maldito e poderoso nos versos! Aqui na Agend@

                                                  Ciclo dos Poetas Malditos 3
               O que seria uma arte pura?
  “É criar uma mágica sugestiva, contendo a um só tempo o objeto e o sujeito, o mundo exterior ao artista e o próprio artista.” _Charles Baudelaire
                                     Sepultura d'um Poeta Maldito

Se, em noite horrorosa, escura,
Um cristão, por piedade,
te conceder sepultura
Nas ruínas d'alguma herdade,


As aranhas hão-de armar
No teu coval suas teias,
E nele irão procriar
Víboras e centopeias.


E sobre a tua cabeça,
A impedi-la que adormeça.
- Em constantes comoções,


Hás-de ouvir lobos uivar,
Das bruxas o praguejar,
E os conluios dos ladrões.
         Charles Baudelaire, in "As Flores do Mal"  Tradução de Delfim Guimarães
 Charles-Pierre Baudelaire Nasceu em Paris a 9 de abril de 1821. Estudou no Colégio Real de Lyon e Colégio Louis-Le-Grand de onde foi expulso por não querer mostrar um bilhete que lhe foi passado por um colega.
Em 1840 foi enviado pelo padrasto, preocupado com sua vida desregrada, à Índia, mas nunca chegou ao destino. Pára na ilha da Reunião e retorna a Paris. Atingindo a maioridade, ganha posse da herança do pai. Por dois anos vive entre drogas e álcool na companhia de Jeanne Duval. Em 1844 sua mãe entra na justiça, acusando-o de pródigo, a partir deste momento sua fortuna torna-se controlada por um notário.
Em 1857 é lançado As flores do mal contendo 100 poemas. O livro é acusado no mesmo ano, pelo poder público, de ultrajar a moral pública. Os exemplares são confiscados e o escritor e a editora multados.
Além de ser evidentemente, um precursor de todos os grandes poetas simbolistas, Baudelaire é considerado pela maior parte dos críticos como o mais provável fundador da poesia dita moderna. Isto deve-se ao fato de que através da percepção do real, chegava sempre a um correlato objetivo para o sentimento que desejasse expressa
 Alfred Victor de Vigny  nasceu em Loches, 27 de março de 1797 e morreu  17 de setembro de 1863 foi um poeta romântico francês autor da expressão  que a utilizou em 1832 na sua peça dramática Stello, onde se refere aos poetas como:
 "la race toujours maudite par les puissants de la terre" traduzindo: "a raça para sempre maldita entre os poderosos da terra".
  Ruas de Paris do século XIX (Google)               Ciganos em Viagem

A tribo que prevê a sina dos viventes
Levantou arraiais hoje de madrugada;
Nos carros, as mulher', c'o a torva filharada
Às costas ou sugando os mamilos pendentes;


Ao lado dos carrões, na pedregosa estrada,
Vão os homens a pé, com armas reluzentes,
Erguendo para o céu uns olhos indolentes
Onde já fulgurou muita ilusão amada.


Na buraca onde está encurralado, o grilo,
Quando os sente passar, redobra o meigo trilo;
Cibela, com amor, traja um verde mais puro,


Faz da rocha um caudal, e um vergel do deserto,
Para assim receber esses p'ra quem 'stá aberto
O império familiar das trevas do futuro!
        Charles Baudelaire, in "As Flores do Mal" Tradução de Delfim Guimarães
Gustave Caillebotte. Rua de Paris, tempos de chuva, 1877. (fotos by Google)
Poeta maldito (em francês: poète maudit) é um termo utilizado para referir os poetas que mantêm um estilo de vida que pretende demarcar-se do resto da sociedade, considerada como meio alienante e que aprisiona os indivíduos nas suas normas e regras, excluindo-se mesmo dela ao adoptar hábitos considerados autodestrutivos, como o abuso de drogas. Sob este conceito está o mito de que o génio criador tem terreno especialmente fértil entre indivíduos mergulhados num ambiente de insanidade, crime, violência, miséria e melancolia, frequentemente resultando no suicídio ou outro género de morte prematura
Camille Pissarro. O boulervard des Italiens, 1897. (fotos by Google)
                          Uma Gravura Fantástica

Um vulto singular, um fantasma faceto,
Ostenta na cabeça horrivel de esqueleto
Um diadema de lata, - único enfeite a orná-lo
Sem espora ou ping'lim, monta um pobre cavalo,
Um espectro tambem, rocinante esquelético,
Em baba a desfazer-se como um epitético,
Atravessando o espaço, os dis lá vão levados,
O Infinito a sulcar, como dragões alados.


O Cavaleiro brande um gládio chamejante
Por sobre as multidões que pisa rocinante.
E como um gran-senhor, que seus reinos visite,
Percorre o cemitério enorme, sem limite,
Onde jazem, no alvor d'uma luz branca e terna,
Os povos da História antiga e da moderna.
                   Charles Baudelaire, in "As Flores do Mal"
Baudelaire morre em Paris em 31 de Agosto de 1867, seu corpo foi sepultado no Cemitério do Montparnasse
Charles Baudelaire foi como os modernistas que vieram após ele, um realista que detestava o entorpecimento da reprodução do mundo em poemas e pinturas e que tinha, ao mesmo tempo, foi contrário a toda subjetividade exagerada.
                       Uma carniça - Baudelaire

Recorda o objeto vil que vimos, numa quieta,

Linda manhã de doce estio:
Na curva de um caminho uma carniça abjeta
Sobre um leito pedrento e frio,


As pernas para o ar, como uma mulher lasciva,
Entre letais transpirações,
Abria de maneira lânguida e ostensiva
Seu ventre a estuar de exalações.


Reverberava o sol sobre aquela torpeza,
Para cozê-la a ponto, e para,
Centuplicado, devolver à Natureza
Tudo quanto ali ela juntara.


E o céu olhava do alto a soberba carcassa
Como uma flor a se oferecer;
Tão forte era o fedor que sobre a relva crassa
Pensaste até desfalecer.

Zumbiam moscas sobre esse pútrido ventre,
De onde em bandos negros e esquivos
Larvas se escoavam como um grosso líquido entre
Esses trapos de carne, vivos.


Isso tudo ia e vinha,como uma vaga,
Ou se espalhava a borbulhar;
Dir-se-ia que esse corpo, a uma bafagem vaga,
Vivia a se multiplicar.


E esse mundo fazia a música exquisita
Do vento, ou então da água-corrente,
Ou do grão que, mexendo, o joeirador agita
Na joeira, cadenciadamente.


As formas eram já mera ilusão da vista,
Um debuxo que custa a vir,
Sobre a tela esquecida, e que mais tarde o artista
Só de cór consegue concluir.

Entre as rochas,inquieta, uma pobre cadela
Fixava em nós o olhar zangado,
À espera de poder ir retomar àquela
Carcassa pobre o seu bocado.


- E no entanto, hás de ser igual a esse monturo,
Igual a esse infeccioso horror,
Astro do meu olhar, sol do meu ser obscuro,
Tu, meu anjo, tu, meu amor!


Sim!tal serás um dia, ó tu, toda graciosa,
Quando, ungida e sacramentada,
Tu fores sob a relva e a floração viçosa
Mofar junto a qualquer ossada.


Dize então, ó beleza! aos vermes roedores
Que de beijos te comerão,
Que eu guardo a forma e a essência ideal dos meus amores
Em plena decomposição!   (Tradução: Guilherme de Almeida)

Tradução de Delfim Guimarães Carlos, Luís Adriano. Universidade do Porto. 1989.
Coelho, Maria Paula Mendes. Da história do símbolo ao simbolismo na história. Atas do Colóquio - Literatura e História. Universidade Aberta. Portugal. 2002.
fotos by google
Sarau Literário Piracicabano (sarau do Samba)

Local: Teatro Municipal de Piracicaba

Homenageados: Angenor de Oliveira (Cartola) sambista, compositor e José de Alencar declamador e poeta
Dia 15 de Fevereiro (terça-feira) Às 19:30 horas
Com a participação musical do REGIONAL DO SARAU LITERÁRIO PIRACICABANO
Aberto a todos que queiram participar
Entrada Franca
 Angenor de Oliveira o popular Cartola.
Poeta e declamador José Alencar alegra com as suas declamaçôes as ruas e avenidas das cidades por onde passa.

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